“Já até rezei por ele hoje, pedindo que tenha um bom descanso e que possa encontrar a morada que merece”. Assim a idosa Marta Gamarra Perrupato, 90 anos de idade, resumiu o sentimento que guarda dos tempos em que hospedou, em um quarto improvisado no corredor da casa dela, o cantor José Rico, no final dos anos 60.
A moradora ainda mantém em sua casa o quartinho onde o cantor ‘parava’ sempre que viajava a Dourados. “Quando ele não tinha dinheiro, vinha aqui, eu preparava uma sopa de arroz, carne e batatinha e dava pra comer; ele ficava deitado ali [mostra a sombra de uma árvore nos fundos do quintal] até que eu o chamasse com a sopa pronta”, relata a mulher.
Pernambucano, José Rico chegou pobre na cidade, proveniente do interior do Paraná. "Ele ficava na barbearia do meu velho, ajudava a varrer o chão, cantava algumas músicas para as pessoas, e depois o meu velho pagava alguma coisa pra ele comer. Eles construíram uma amizade muito forte", relembra a viúva referindo ao marido, já falecido, João Armando Perrupato. A famosa barbearia de Perrupato funcionou durante muitos anos onde hoje está localizada a franquia dos sorvetes Chiquinho, na esquina da avenida Marcelino Pires com a rua Firmino Vieira de Matos.
Parceiro do cantor Milionário, com quem formou uma das duplas mais famosas do Brasil, José Rico Alves dos Santos morreu na tarde desta terça-feira (3), aos 68 anos de idade, no hospital de Americana, no interior paulista, onde se submetia a tratamento de complicações renais.
“Bem que vi mesmo, da última vez que apareceram na televisão, ele aparentava estar muito inchado”, comenta Marta Perrupato, que recebeu o Douranews na casa dela, na esquina das ruas Pedro Celestino com Oliveira Marques, onde ajudou a cuidar do filho Adão, que José Rico teve na cidade com uma mulher identificada como Geralda [‘ela era de Bela Vista’, relembra a viúva], mostrando lucidez no raciocínio.
Os últimos 30 reais
Marta Perrupato diz que não guarda mágoa, nem ressentimentos, pelo fato de, depois de atingirem o auge da fama [a dupla vendeu mais de 35 milhões de exemplares dos 29 discos gravados desde 1973 e ainda produziu dois filmes - “Na Estrada da Vida”, em 1980, e “Sonhei com Você”, de 1988], o marido que patrocinou o primeiro disco não ter tido o reconhecimento. Em dezembro de 2013 [‘completou um ano dia 2 de dezembro que passou’, recorda a mulher], eu recebi uns 30 reais, foi a última participação do que eles chamam de direitos autorais; depois disso, nunca mais”, comenta a mulher, procurando disfarçar a realidade.
A viúva de João Armando, morto há cerca de dez anos, lembra do esforço do marido para ajudar a dupla no começo da carreira. Perrupato juntou as economias da época, junto com Salvador Pinheiro, um conhecido empresário de cantores sertanejos da região, e foram para São Paulo para gravar o primeiro LP de Milionário e José Rico, em 1973, pela gravadora Califórnia. José, apesar de ter nascido em Pernambuco, foi criado em Terra Rica, no Paraná, desde os dois anos de idade, por isso adotou o nome de ‘Rico’, em alusão à cidade onde viveu. O apelido, que foi inventado por um padre ainda na infância, foi registrado em cartório anos mais tarde, segundo relato histórico.