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Defensoria tenta limitar número de
presos na Máxima para evitar massacre

Supremo pediu a TJMS que agilize processos penais não julgados

RODOLFO CÉSAR

12/01/2017 - 19h11
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A Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul tenta na Justiça Estadual limitar o número de presos que o Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, no bairro Noroeste, em Campo Grande, recebe regularmente. Ainda não há decisão proferida e a ação civil pública tramita desde maio de 2016.

O procedimento foi tomado porque a superlotação na Máxima da Capital, como a unidade é conhecida, pode gerar risco de rebelião, motim ou mesmo massacre como o que foi registrado no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), onde no dia 1º deste mês presos ligados a uma facção executaram outros 56 detentos, muitos deles pertencentes a grupo rival.

Quando houve o ajuizamento da ação, a Defensoria havia identificado 2.306 internos, enquanto a capacidade da Máxima é de 642 vagas. Hoje há 2.248 reclusos.

"A instituição vem alertando as autoridades quanto ao problema da superlotação, dentre outros", informou nota do órgão, que tem 23 defensores atuando na área criminal somente em Campo Grande, enquanto há sete designados para a área de execução penal.

Nesse mesmo processo, foi recomendado também a necessidade de construção de uma nova unidade para abrigar presos na Capital.

Para reforçar a permanência da situação de instabilidade no presídio, nesta terça-feira à tarde (10), preso da Máxima enviou carta para a Defensoria Pública relatando possível risco de agressões e execução. "Os defensores públicos que integram o Núcleo de Execução Penal em Campo Grande estão investigando a reclamação para deliberar a respeito de eventuais providências", garantiu comunicado oficial.

No relatório elaborado por defensores, depois de vistoria, o plantão deveria funcionar com 400 servidores, mas tinha 11. O recomendado está previsto em regulamentação da Organização Internacional e Nacional do Trabalho e do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. O previsto é haver um agente para cada cinco presos.

REUNIÃO NO STF

O vice-presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), desembargador Paschoal Carmello Leandro, foi a Brasília hoje e se reuniu com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Cármen Lúcia, para discutir a situação do sistema penitenciário. Representantes de outros tribunais também participaram da audiência.

Será preciso enviar até terça-feira (17) informações em planilha ao Supremo para detalhar quantos juízes são necessários para acelerar processos penais não julgados nas comarcas.

“A situação é de emergência. As facções criminosas mais do que nunca dominam nos presídios. É hora de agir com firmeza e rapidez”, disse Cármem Lúcia na reunião.

Foi pedido que nos próximos 90 dias juízes auxiliares e servidores sejam deslocados para as varas criminais e de execução penal para dar mais celeridade a processos.

Houve também o anúncio da realização do censo penitenciário e o cadastro de presos do país. A incumbência dessas medidas será do CNJ.

O TJMS aguarda o retorno do desembargador participante do encontro para divulgar detalhes das ações que serão implantadas no Estado.

MEDIDAS EM ANDAMENTO

De maio de 2016, quando houve o ajuizamento da ação da Defensoria, até o presente momento a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) realizou concurso público e vai formar em 1º de fevereiro 438 novos agentes, a serem distribuídos pelo Estado.

Em MS, há 7.327 vagas, sendo que o número de presos é maior, de 15.549 detentos. Novos presídios estão em construção e há a previsão de absorver demanda de 2.588 novas vagas.

Em Campo Grande, três presídios estão sendo construídos no Complexo da Gameleira. Duas unidades masculinas, com 603 vagas cada, e um feminino, para abrigar 407 mulheres. "Com exceção do feminino, que teve atraso no cronograma em razão de falhas no projeto, as obras da Gameleira serão inauguradas ainda neste primeiro semestre", garantiu nota da Agepen.

Outras construções acontecem em Corumbá (90 vagas), Coxim (144) e Ponta Porã (144). Ao mesmo tempo, o recurso de R$ 54.640.972,22 liberados do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) no final do ano passado terá destinação de R$ 31.944.444,44 para levantar unidades em Dourados (800 vagas para masculino e 400 feminino) e uma unidade de semiaberto em Corumbá.

"(Os novos agentes) são treinados também para o trabalho de ressocialização, o que é fundamental para a humanização e para desafogar o sistema penitenciário", explicou Ailton Stropa Garcia, diretor-presidente da Agepen.

Cidades

Justiça recusou 6 pedidos de tratamento para réu que morreu na prisão, diz advogado

José Roberto de Souza, acusado de matar o empresário Antônio Caetano de Carvalho durante audiência no Procon, morreu de complicações causadas por uma pneumonia

19/04/2024 18h30

Gerson Oliveira/Correio do Estado

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Defesa do ex-policial militar reformado, José Roberto de Souza, que morreu nesta manhã em decorrência de complicações causadas pela Influenza tipo A, alega que a Justiça recusou seis pedidos de atendimento médico ao réu nos últimos oito meses.

O ex-pm está preso desde o dia 16 de fevereiro de 2023, três dias após o crime que resultou na morte do empresário Antônio Caetano de Carvalho, de 67 anos, no Procon/MS.

A defesa foi informada da morte por volta das 11 horas da manhã desta sexta-feira (19). O último pedido para tratamento médico havia sido feito pouco antes da morte de José, às 8h.

"Este caso deixa tanto a mim quanto a minha equipe, em uma situação extremamente triste, até com uma sensação de impotência. Porque eu e o doutor Jackson, que foi quem manuseou grande parte dos pedidos desde que aconteceu aquele fatídico problema no Procon, temos informado ao juiz da segunda vara do tribunal do júri as complicações físicas da doença que o nosso cliente possuía", declarou o advogado de defesa, José Roberto da Rosa.

Segundo o advogado, além de problemas psiquiátricos, o réu possuía doença renal crônica e diabetes, além de complicações cardíacas. O primeiro pedido para atendimento médico de José foi feito em setembro do ano passado, mas recusado, já que o Ministério Público teria alegado que a defesa não teria conseguido provar que o cliente estava doente.

"Chegou em um ponto que nós interpusemos um habeas corpus junto ao tribunal, não obtivemos a prestação jurisdicional, e antes da saída para o final do ano [2023], nós ingressamos com outro habeas corpus, mais precisamente no dia 22 de dezembro, onde havíamos dito que o nosso cliente estava doente e precisava de tratamento", acrescentou Rosa.

A única medida tomada pela Justiça, segundo o advogado, foi retirar o réu do presídio militar, onde ele não estava recebendo os tratamentos adequados - por falta de escolta e por falta de médicos -, para transferí-lo a outra unidade penal "comum", onde ele poderia receber atendimento médico especializado.

"Ao invés de determinar que ele fosse tratado, o Tribunal de Justiça tirou a condição dele de policial militar e o direito de estar no presídio militar, e o mandou para um presídio comum. Aí ele ficou no Centro de Triagem, com o atendimento dos médicos", explicou o advogado. 

Na última semana, os advogados foram visitar José, que pediu por socorro. Ele teria pedido "doutor, eu preciso de atendimento médico".

"E todos os pedidos rechaçados pelo juiz da segunda vara do tribunal do júri. O habeas corpus, que nós entramos em dezembro do ano passado, até hoje não foi posto em mesa para julgamento. Então, é uma decepção enquanto advogado", afirmou Rosa.

Segundo o advogado, a morte de José pode ser colocada na conta do Poder Judiciário.

"A  conta sobre a morte desse homem é exclusivamente debitada ao Poder Judiciário. Talvez agora, com a certidão de óbito, a gente consiga provar que o nosso cliente estava doente, porque foram oito meses de peticionamento em que promotor disse que nós não conseguimos provar que o nosso cliente estava doente, onde todos os pedidos que foram encaminhados, o juiz de direito, que oficia perante a segunda vaga do Tribunal do Júri, disse que não ia liberar ele para tratamento. Então agora eu vou juntar a certidão de óbito para mostrar que nós tínhamos razão", disse o advogado.

O advogado quer que a família da vítima entre com um processo para culpabilizar o Estado.

"Infelizmente, agora não adianta mais autorizar o tratamento. Ele morreu hoje em decorrência do quadro agravado pelo problema renal crônico. Ele foi contaminado com influenza dentro do presídio, porque o sistema imunológico dele estava muito comprometido, o tratamento que ele precisava receber, ele não recebeu, e infelizmente hoje ele não aguentou", finalizou.

O Crime

No dia 13 de fevereiro deste ano, o empresário Antônio Caetano de Carvalho, de 67 anos, foi morto a tiros pelo policial militar reformado, José Roberto de Souza, durante audiência de conciliação realizada no Procon.

A vítima era proprietária da empresa Aliança Só Hilux, especializada em peças de Hilux e SW4, que havia realizado a troca do motor de uma SW4 para José Roberto.

Durante a primeira audiência de conciliação, realizada na sexta-feira anterior, dia 10 de fevereiro, José Roberto pediu que Caetano entregasse as notas fiscais referentes aos serviços prestados pela empresa para a troca do motor de seu veículo blindado, trabalho avaliado em quase R$ 30 mil.

Aproveitando as tratativas, Caetano cobrou do cliente R$ 630 reais devidos, referentes a uma troca de óleo realizada no ano anterior. Na segunda audiência, então, Caetano levaria as notas fiscais e José Roberto o dinheiro que devia.

No entanto, após uma desavença logo no início da audiência de conciliação, José Roberto efetuou três disparos contra Caetano, dois na cabeça e um na nuca. A vítima morreu no local.

Três dias após o crime, José Roberto de Souza se apresentou à polícia.

primeira audiência que investiga o caso foi realizada no dia 3 de julho do ano passado, e ouviu testemunhas de acusação e defesa. Oito pessoas prestaram depoimento, sendo duas delas funcionárias do Procon, uma advogada que presenciou o crime, um funcionário da vítima, o investigador da 1ª Delegacia de Polícia de Campo Grande, responsável pelo caso, o filho da vítima e dois conhecidos de longa data do acusado.

Valéria Christina, a conciliadora que trabalhava com o caso, não compareceu para prestar depoimento. Segundo informado durante a audiência, a servidora foi transferida para outro órgão após o ocorrido, e segue afastada desde então por questões de saúde.

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Pesquisa

Extrema pobreza cai a nível recorde; dúvida é se isso se sustenta

O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300

19/04/2024 18h00

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Foto: Favela em Campo Grande - Gerson Oliveira/Correio do Estado

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A expressiva alta da renda em 2023 reduziu a pobreza extrema no Brasil ao seu nível mais baixo da série histórica, a 8,3% da população. O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300. Apesar da queda, isso ainda equivale a praticamente a população do Chile.

O cálculo é do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), do IBGE.

Em relação a 2022, 2,5 milhões de indivíduos ultrapassaram a linha dos R$ 300, numa combinação de mais transferências pelo Bolsa Família, aumento da renda do trabalho e queda do desemprego. A grande dúvida é se o movimento —e mesmo o novo patamar— seja sustentável.

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Todas as classes de renda (dos 10% mais pobres ao decil mais rico) tiveram expressivos ganhos; e o maior deles deu-se para os 5% mais pobres (38,5%), grandes beneficiados pelo forte aumento do Bolsa Família —que passou por forte expansão nos últimos anos.

Entre dezembro de 2019 (antes da pandemia) e dezembro de 2023, o total de famílias no programa saltou de 13,2 milhões para 21,1 milhões (+60%). Já o pagamento mensal subiu de R$ 2,1 bilhões para R$ 14,2 bilhões, respectivamente.

Daqui para frente, o desafio será ao menos manter os patamares de renda —e pobreza— atuais, já que a expansão foi anabolizada por expressivo aumento do gasto público a partir do segundo semestre de 2022.
Primeiro pela derrama de incentivos, benefícios e corte de impostos promovidos por Jair Bolsonaro (PL) na segunda metade de 2022 em sua tentativa de se reeleger. Depois, pela PEC da Transição, de R$ 145 bilhões, para que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse gastar mais em 2023.

Como esta semana revelou quando governo abandonou, na segunda-feira (5), a meta de fazer superávit de 0,5% do PIB em suas contas em 2025, o espaço fiscal para mais gastos exauriu-se.

A melhora da situação da renda dependerá, daqui para frente, principalmente do mercado de trabalho e dos investimentos do setor privado. Com uma meta fiscal mais frouxa, os mercados reagiram mal: o dólar subiu, podendo trazer impactos sobre a inflação, assim como os juros futuros, que devem afetar planos de investimentos empresariais e, em última instância, o mercado de trabalho.

Apesar do bom resultado em 2023, algumas análises sugerem que o resultado não deve se repetir. Segundo projeções da consultoria Tendências, a classe A é a que terá o maior aumento da massa de renda real (acima da inflação) no período 2024-2028: 3,9% ao ano. Na outra ponta, a classe D/E evoluirá bem menos, 1,5%, em média.

Serão justamente os ganhos de capital dos mais ricos, empresários ou pessoas que têm dinheiro aplicado em juros altos, que farão a diferença. Como comparação, enquanto o Bolsa Família destinou R$ 170 bilhões a 21,1 milhões de domicílios em 2023, as despesas com juros da dívida pública pagos a uma minoria somaram R$ 718,3 bilhões.

A fotografia de 2023 é extremamente positiva para os mais pobres. Mas o filme adiante será ruim caso o governo não consiga equilibrar suas contas e abrir espaço para uma queda nos juros que permita ao setor privado ocupar o lugar de um gasto público se esgotou.

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