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Sociedade plural é base da democracia, diz promotora

Jaceguara Dantas da Silva Passos lida com temáticas ligadas à discriminação

Redação

24/05/2015 - 16h15
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Titular da 67ª Promotoria de Justiça dos Direitos Humanos de Campo Grande,  a promotora  Jaceguara Dantas da Silva Passos reconhece como é grande o esforço e, ao mesmo tempo, o privilégio de trabalhar em defesa dos grupos mais vulneráveis da sociedade. À frente desta promotoria inédita no Estado, criada há dois anos na Capital, ela lida com temáticas ligadas ao preconceito, à intolerância e à discriminação.  Nesta entrevista, destaca como são feitas as ações, relaciona casos emblemáticos e diz que sonha com o dia em que não haja nenhum tipo de preconceito.   

CORREIO PERGUNTA  - A senhora é promotora da 67ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos de Campo Grande. Quais são os maiores desafios e problemas que encontra na promotoria?


JACEGUARA DANTAS DA SILVA PASSOS – Trabalhar com direitos humanos em nosso País já é um desafio. E trabalhar com os grupos mais vulneráveis  é um desafio maior ainda. Eu lido com todas as temáticas de direitos humanos, com relação à intolerância, ao preconceito e à discriminação; lido com os excluídos e, efetivamente, os mais pobres e marginalizados da sociedade em Campo Grande. Esta promotoria, especificamente como direitos humanos, é um projeto que só tem aqui na Capital. Esta aqui é um projeto-piloto, é única e há poucos estados da federação com esta temática, com estas características. Ela lida com o combate ao racismo, atua na defesa dos direitos das pessoas em situação de rua, a temática da acessibilidade, da intolerância religiosa, a intolerância contra o segmento LGBT, entre outros.

Atualmente, o que há de maior destaque na atuação da promotoria em cada uma delas?

Em relação à comunidade LGBT, emitimos diversas recomendações para o município e para o Estado objetivando o resguardo, a lei do nome social. Existe um decreto-lei estadual e uma lei municipal e o maior pleito destas pessoas é que elas sejam chamadas pelos nomes com os quais se identificam. E nós expedimos estas recomendações objetivando o resguardo deste direito, obviamente, obedecendo as diretrizes traçadas pela Constituição Federal e também as diretrizes das próprias leis intraconstitucionais. Esta é uma conquista deste público e  nós até contribuímos com este segmento LGBT para a derrubada do veto do prefeito Gilmar Olarte, que não aprovou esta lei municipal. A Câmara Municipal derrubou o veto e a lei pode ficar em vigor. No que se refere à área da mulher, estamos atuando na temática do combate à discriminação racial. Temos uma ação direcionada à corporação, à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros, objetivando atuar na temática de gênero e no combate aos casos de assédio sexual por parte de superiores hierárquicos. É um procedimento que está em trâmite. Em relação ao tráfico de pessoas, nós temos um seminário que será realizado na próxima semana; estamos aproximando o movimento social do Ministério Público, atuando numa ação articulada para fazer frente a esta temática em relação à acessibilidade e o foco maior tem sido esta campanha, destinada a possibilitar às pessoas o uso da vaga especial. Instauramos inquérito civil para que todas as companhias aéreas, que dão acesso a Campo Grande, possibilitem uma solução para que o deslocamento de um deficiente físico, para adentrar a aeronave, não se faça de forma tão constrangedora. Em relação aos ônibus de Campo Grande, também há muita reclamação dos usuários com deficiência, por conta dos elevadores que necessitam de manutenção. A necessidade de acessibilidade às escolas municipais, estaduais, ao Hospital Rosa Pedrossian, ao Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo. Temos, pelo menos, uns 20 procedimentos objetivando este segmento.

A senhora também tem um trabalho junto aos moradores de rua.

Em relação a eles, temos uns quatro ou cinco procedimentos que objetivam a implantação de serviços destinados ao acolhimento às pessoas em situação de morador de rua e também para fazer com que o município efetive o plano de ação, tendo como foco estas pessoas, e as políticas públicas destinadas a tirar estas pessoas do grau de vulnerabilidade em que se encontram. Posteriormente, num segundo momento, incluí-las na sociedade, nos programas de trabalho, de lazer, de cultura, de educação e saúde.

No que se refere aos moradores de rua, há denúncias por parte deles de atitudes não condizentes efetuadas pela Guarda Municipal de Campo Grande?

Está em trâmite um procedimento contra a Guarda Municipal de Campo Grande, a partir de reclamo de pessoas em situação de rua de que a abordagem em relação a eles tem sido muito violenta, que a guarda estaria desrespeitando, violando os direitos destas pessoas numa abordagem agressiva e abusiva. Instauramos inquérito civil para averiguar a situação e, assim que tivermos elementos, vamos propor ao município e à Guarda Municipal termos de ajustamento de conduta para adequação dos comportamentos que estão fora da lei.

A senhora participou de um caso nacionalmente conhecido, de uma mãe que perdeu dois filhos por conta do racismo. Em pleno século 21, o que a senhora considera ainda faltar no Brasil para erradicação do racismo?

Precisa haver uma cultura, educação em direitos humanos, os negros precisam ser incluídos, [haver] a tal da política pública, política afirmativa que é muito questionada, a meu ver ainda – respeitadas, obviamente, as opiniões contrárias –, mas ela é ainda uma necessidade. Nós não vemos os negros inseridos em posto de destaque, em processo dentro de universidades e mesmo dentro dos mais altos patamares da academia, dos órgãos públicos ou privados. O negro ainda está nos serviços que compõem a base da pirâmide social. As ações afirmativas se mostram necessárias e o processo educacional como um todo, porque nós precisamos assimilar, por meio de um processo educacional, para trabalhar os cidadãos do futuro, no sentido de que a igualdade é um princípio que tem que ser efetivado. Para que nada, nem a religião, nem a opção sexual, nem a cor, a raça ou a etnia, nos diferencie enquanto seres humanos. É preciso trabalhar por meio do processo educacional esta igualdade de todos perante a lei,  para que  ela saia do plano formal para o plano material. E em se tratando de comunidade negra, adentrarmos os espaços educacionais, produtivos do mercado como um todo, para estarmos inseridos na sociedade.

A senhora foi a favor do término do projeto “Quinta Gospel”, por acreditar que o município não pode contemplar tão somente a religião evangélica. Fora a Capital, a senhora já se deparou com o problema em alguma outra cidade do estado?

Não. Embora esta prática não seja um privilégio, uma ação isolada, mas de maneira muito particular, nesta atual administração a questão da religiosidade, e, em especial, os evangélicos, tem sido colocada num patamar de prioridade, como se a religião fosse pré-requisito para a ascensão, o usufruto de direitos. Quero esclarecer aqui que, em momento algum, eu sou contra os evangélicos. Isso aqui não é uma posição individual, mas, sim, enquanto operadora do Direito, enquanto agente político, no sentido de compreensão de que o Estado é laico e que não se pode privilegiar nenhuma religião sob qualquer circunstância. A partir do momento em que você segmenta e privilegia determinada linha religiosa, está criando divisões e oportunidades de intolerância. E isso é inadmissível dentro do Estado de Direito e dos princípios republicanos. A ação do Ministério Público foi contundente no sentido de inibir este tipo de política equivocada e segmentada.

A violação dos direitos humanos geralmente afeta mais as pessoas pobres. Essas, por sua vez, não possuem tanta voz para lutar por seus direitos. É possível ser um País respeitador dos direitos humanos sendo desigual? 

Não, não é possível. Ainda que minha vontade fosse responder que sim. Mas a pobreza e a desigualdade social são componentes extremamente fortes na propagação da violação de direitos. A própria exclusão do processo educacional, para significativa parte da população, por si só já constitui um elemento violador de direitos. E para você exercer o direito, você precisa conhecê-lo e ter mecanismos de atuar na defesa dele. E grande parcela da sociedade está excluída. Sem dúvida alguma a desigualdade e a pobreza contribuem decisivamente para que sejamos um País violador de direitos.

Atualmente, muito se discute sobre os avanços em torno dos direitos humanos, ilustrados por planos governamentais, como o “Programa Nacional de Direitos Humanos”, cujo objetivo é passar à opinião pública a noção de igualdade e respeito entre diversos grupos que vivem no Brasil. Qual sua avaliação sobre os debates em torno dos direitos humanos no País? 

Eles podem até ter avançado em termos de discussão, de teoria, mas de concretização de direitos humanos ainda falta muito. Nós temos um porcentual enorme de crianças e de pessoas sem acesso à educação, e esta realidade não tem mudado. Nós temos um contingente enorme de pessoas em situação de rua, temos enorme contingente de pessoas excluídas do processo social, em termos de direitos, e de acesso aos bens mais elementares, e temos um enorme contingente de pessoas que não possuem o mínimo ético para que possam exercer realmente a sua cidadania. E cada vez que a minha atuação é fortalecida no Ministério Público, na Promotoria dos Direitos Humanos, eu vejo quão longe nós estamos ainda de concretizar os direitos mais elementares. Nós estamos discutindo a efetivação de leis, com relação à acessibilidade, do ano de 2000, quinze anos já se passaram e a sociedade não absorveu, não existe a adesão social quanto aos direitos das pessoas que necessitam de acessibilidade. Realmente falta o princípio de se colocar no lugar do outro, mas tem, também, aquilo que nós, enquanto brasileiros, estamos longe de compreender, que é a necessidade do cumprimento das leis. Falta esta adesão social às leis. As leis não existem para o sentido figurativo, elas existem para serem cumpridas. Resumindo, falta uma cultura de solidariedade, de cumprimento de lei, de respeito ao próximo sobretudo. No momento em que nós nos colocamos no lugar do outro, passamos a verificar que aquela pessoa tem que ser respeitada dentro das suas especificidades, sejam elas pessoas com deficiência, o negro, a comunidade LGBT – quanto à orientação sexual –, a mulher. Em relação à questão da intolerância religiosa ou às adversidades como um todo, nós precisamos cultivar a ideia de uma sociedade plural, isso é a base da democracia. Não se estabelece democracia com pessoas de uma única raça, opção sexual, com uma só religião.

Quais casos com que a senhora tem trabalhado na promotoria, nos últimos anos, e que destacaria como emblemáticos? 

Entre os diversos casos que estão sob a atuação do Ministério Público, eu elegeria o caso da Dona Cleonice (ela perdeu os dois filhos para o racismo), que, embora seja do conhecimento do público, é muito triste ver o sofrimento daquela mãe, e tenho como me solidarizar com ela não só por ser negra, mas por não conseguir entender que a gente esteja num mundo tão globalizado, tão informatizado, e a compreensão humana ainda cultue o racismo.  O outro caso é a questão da administração pública segmentar a “Quinta Gospel” e outros casos nos quais estamos atuando aqui, temos que apurar com relação a cultos que estão sendo realizados e algumas pessoas chegam a contar que são obrigadas a participar deles como funcionários. Mais uma que eu não poderia deixar de citar é o preconceito, a discriminação em relação à comunidade LGBT. Na verdade, todos estes casos que eu mencionei servem de pano de fundo, ainda com toda a sensibilidade de lidar com a temática, com todo o meu envolvimento, para que eu tenha muita dificuldade de compreender a intolerância, o desrespeito e a discriminação. Todos estes casos ocorrem por conta disso, seja em virtude de orientação sexual, de raça, de uma pessoa ter uma deficiência ou pela orientação religiosa. Todos estes casos se resumem a uma dificuldade muito grande: em pleno século 21, nós ainda temos que lidar com o preconceito.

Quem quer ser milionário?

Com chances renovadas, Mega-Sena sorteia neste sábado prêmio acumulado de R$ 100 milhões

Em Mato Grosso do Sul, as apostas podem ser feitas até as 18 horas

20/04/2024 09h41

Divulgação

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Mais um novo milionário pode surgir neste sábado (20) com o sorteio das seis dezenas do concurso de número  2.715 da Mega -Sena pela Loteria Federal. O sorteio será realizado na noite de hoje a partir das 20h (horário de Brasília), no Espaço da Sorte, localizado na Avenida Paulista, em São Paulo.

Para os que desejam acompanhar, o sorteio terá transmissão ao vivo pelo canal da Caixa no YouTube e também no Facebook das Loterias Caixa. O prêmio da faixa principal, acumulado pela nona vez, está estimado em R$ 100 milhões.

Em Mato Grosso do Sul as apostas podem ser feitas até as 18 horas deste sábado. A "fézinha" pode ser feita nas casas lotéricas credenciadas pela Caixa, em todo o país ou por meio da página na internet.

O Estado, que carrega um histórico de pé-quente, contabilizou somente no último concurso 60 apostas vencedoras, que totalizou um monte de R$ 1.131,00 por acertar quatro das seis dezenas sorteadas. Resultado pode ser conferido pelo rateio divulgado pela Loteria da Caixa Econômica Federal.

Mega-sena

Os sorteios da Mega-Sena são realizados duas vezes por semana, às quartas e aos sábados. Para adequar o número do concurso da Mega da Virada, que deve ter final 0 ou 5 foram criadas as Mega-Semanas que são exclusividades da Mega-Sena.

Os sorteios ocorrem em datas predeterminadas ao longo do ano. Na ocasião são realizados três concursos semanais, às terças, quintas e sábados.

A Mega-Sena paga milhões para o acertador dos 6 números sorteados. Ainda é possível ganhar prêmios ao acertar 4 ou 5 números dentre os 60 disponíveis no volante de apostas.

Para realizar o sonho de ser o próximo milionário, você deve marcar de 6 a 15 números do volante, podendo deixar que o sistema escolha os números para você (Surpresinha) e/ou concorrer com a mesma aposta por 2, 4 ou 8 concursos consecutivos (Teimosinha).

Quanto mais números você marcar, maior a chance de acertar, porém, o valor aumenta conforme a quantidade de números marcados. O menor valor para se realizar um jogo simples, com seis números marcados, custa R$ 5.

ENTREVISTA

"Acreditamos que esta iniciativa deverá se repetir com o passar dos anos"

O desembargador explicou que o Judiciário é guardião dos valores do Programa Restitua não serão perdidos ou apropriados pelo poder público de Mato Grosso do Sul

20/04/2024 09h30

Sérgio Fernandes Martins - Presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) Divulgação

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 Sérgio Martins

Formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no ano de 1982. Pouco tempo depois, em 1989, passou a lecionar na UCDB disciplinas como Direito Comercial, Direito Econômico e Direito Empresarial. Concomitante à vida acadêmica, ele ingressou na política, sendo subchefe da Secretaria Estadual de Governo, de 1990 a 1992, e vereador eleito em Campo Grande, de 1992 a 1996. No ano seguinte, tornou-se advogado-geral e procurador-geral do município de Campo Grande, cargo que exerceu até 2004. Ingressou na magistratura como desembargador na vaga correspondente ao Quinto Constitucional reservada a advogados em 21 de novembro de 2007. Autor do Livro “Tributos Municipais na Federação Brasileira como Fator de Realização da Justiça Fiscal”, Sérgio Martins é membro da cadeira nº 23 da Academia de Letras Jurídicas do Estado de Mato Grosso do Sul (ALJ-MS), desde 2 de agosto de 2008. Atualmente, ele exerce o cargo de presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) para o Biênio 2023-2024.

 

 

 O novo secretário estadual de Administração, Frederico Felini, concedeu uma entrevista exclusiva ao Correio do Estado e fez um balanço do pouco tempo à frente do cargo responsável por uma parte muito sensível da gestão do governador Eduardo Riedel (PSDB).

Ele destacou que o Estado tem um corpo técnico muito capacitado e um planejamento muito bem feito sendo executado com rigor e agilidade. “Buscamos melhorar nossos processos a cada a movimento, procuramos sempre inovar e trazer maior rapidez e eficiência para o serviço público”, disse.

Frederico Felini também tratou de uma questão problemática de toda administração, que é a previdência. “Atualmente, o déficit previdenciário do Estado de Mato Grosso do Sul está em torno de R$ 12 bilhões. Com responsabilidade e compreensão de que a previdência garante direitos e tranquilidade às pessoas que prestaram serviço à população sul-mato-grossense, o governo do Estado vem aportando, além da sua cota patronal, aproximadamente R$ 3 bilhões por ano, a mais do que seria a obrigação legal, para conter o aumento desse déficit”, argumentou.

Confira abaixo a entrevista completa:

Presidente, o que motivou o senhor a lançar o Programa Restitua? 

Identificamos em um caso específico a pendência de valores a levantar, mesmo depois de arquivado o processo. Nossa experiência indicava que dificilmente alguém, por mais que precisasse, se recordaria daquele valor. Não era expressivo, mas nos chamou atenção. Sensibilizados com a situação, realizamos o levantamento do valor global e, percebemos a grandiosidade da questão.

Assim, determinamos a preparação e lançamento do Programa Restitua, sem precedentes neste Estado, em especial no Judiciário local. Já ocorreu algo similar pelo Banco Central do Brasil. Então aproveitamos a ideia e buscamos realizar mais uma ação que possa influenciar positivamente na vida de nossos jurisdicionados. 
 
Na sua avaliação, essa plataforma deve contribuir para que uma grande parte do montante de R$ 314 milhões esquecido seja resgatado pelos cidadãos?

A plataforma é essencial, pois os processos já estão arquivados definitivamente, se não houvesse esse trabalho, somente quando e, se alguém resolvesse verificar isto individualmente, é que algum valor seria restituído. Não há revisão do que já está no arquivo definitivo. Por isso, foi importante a sensibilidade por parte do Tribunal de Justiça e de nossas equipes quanto ao lançamento do Programa. 

O senhor acredita que o expressivo número de 40 mil processos já baixados com depósitos judiciais remanescentes é fruto do quê?

Há hipóteses legais em que o valor precisa permanecer vinculado a uma conta judicial mesmo depois de arquivado. Posso citar, por exemplo, quando o beneficiário é um menor de idade. Neste caso, em regra, o valor ficava depositado, sendo corrigido monetariamente, é claro, até a maioridade.

Posso citar ainda quando o valor de um crédito depositado é penhorado, em decorrência de outra ação (onde o beneficiário é devedor). Neste caso, aguarda-se a resolução do processo de execução que determinou a penhora. Mas há também casos onde o beneficiário foi intimado para levantar o valor e não o fez. Seja por falta de diligência, mas também pode ter ocorrido seu falecimento.

São apenas alguns exemplos que demonstram que as causas destes valores ainda se encontrarem nas contas judiciais são diversas e, apenas em raras vezes decorrem de falta/esquecimento pelo juiz do processo, ocasião em que as partes também terão deixado a oportunidade de levantamento passar em branco. Vencidos esses obstáculos que citei, os valores podem ser levantados.
 
Para o TJMS, o Programa Restitua pode motivar a realização de novas ações semelhantes?

Acreditamos que esta iniciativa deverá se repetir com o passar dos anos. Afinal, lembro aqui uma pergunta que já me fizeram. O que será feito com estes valores se, mais uma vez, não forem levantados pelos beneficiários? Respondo. Eles ficarão lá! Depositados!

O Judiciário é guardião destes valores e, eles não serão perdidos ou apropriados pelo poder público. Digo isto apenas para que as pessoas se sintam seguras e saibam que não perderão o que lhes pertence, mas é importante que diligenciem a respeito, pois em alguns casos há valores expressivos.
 
Como deve funcionar na prática o Programa Restitua?

Uma vez realizada a consulta no site www.tjms.jus.br/restitua e, identificado o crédito no processo, deve ser verificado se o crédito é desta pessoa ou não. O ideal é procurar um advogado, especialmente se o processo for complexo. Nos casos mais simples, nossos cartórios judiciais podem ajudar.

Sendo o crédito pertencente àquela pessoa, deve requerer o levantamento. Se o processo for dos Juizados Especiais, o advogado é prescindível. Se for da justiça comum, só o advogado pode fazer o pedido. Nosso sistema está preparado para que o processo seja levado à conclusão separado dos demais processos, para que o magistrado dê preferência e agilidade à análise destes pedidos.

Acreditamos que a maioria deles seja muito simples. Se deferido pelo juiz, é expedida uma guia de levantamento (o antigo alvará). Estas guias realizam a transferência por TED, a partir dali, em pouco tempo o dinheiro estará na conta do beneficiário.

Presidente, qual o reflexo dessa medida para a economia?

É um valor bastante expressivo e acreditamos que boa parte dele será levantado pelos beneficiários ou seus herdeiros. Então, certamente haverá algum impacto na vida das pessoas e provavelmente no comércio. Esperamos que as pessoas tenham acesso ao valor que lhes pertence. Tão melhor que ficar depositado, ainda que rendendo alguma coisa, é que sejam aplicados no pagamento de contas pessoais ou realização de algum sonho pessoal. A função do judiciário é agir ativamente na devolução destes valores.
 
Quais são os cuidados que as pessoas devem ter para evitar eventuais golpes?

Lançamos diversos alertas na página do Programa Restitua e, acreditamos que, se forem seguidas, ninguém terá problemas. Não realizaremos contato com os beneficiários (seja por telefone, email, Whatsapp, SMS, Messenger, Instagram, Facebook, ou quaisquer outros meios) e tampouco solicitaremos dados pessoais ou senhas. Todos os valores que forem localizados precisam ser checados pelo Juiz do Processo, inclusive porque pode pertencer à parte adversa.

Nossos sistemas não foram preparados para identificar os beneficiários automaticamente, já que isto depende da decisão escrita do juiz e/ou do Tribunal e, os sistemas informatizados não fazem esta identificação nas decisões, sentenças e acórdãos. Até poderiam ter sido, mas neste ponto isto é uma vantagem, porque o magistrado não irá liberar valores para quem não for o seu real beneficiário. E a decisão é sempre do juiz. O ideal é diligenciar o recebimento por meio de um advogado, que na realidade somente pode ser dispensado, se o processo onde o valor encontra-se depositado, por uma ação que tenha tramitado perante os Juizados Especiais.
 
No seu entendimento, esse programa é mais um fruto do uso da tecnologia por parte do TJMS?

Sem a tecnologia e os avanços que temos alcançado nos últimos anos isto não seria possível, pois o número de subcontas judiciais é muito grande e,a aplicação de filtros de pesquisa por nossa diligente equipe de tecnologia foi essencial. 
 

Mudando de assunto, atualmente quais são os principais gargalos da Justiça no Estado?

Eles são sempre os mesmos: a alta litigiosidade, agora aliada à demandas predatórias especialmente bancárias e de saúde (captadas por alguns advogados e que indica o uso de má-fé e até falsidades nos processos judiciais) e, a contraposição disso com o orçamento. Não que possamos reclamar do nosso orçamento deste ano, porém, é certo que as demandas e necessidades crescem em ritmo muito mais alto que ele.

Veja, por exemplo, o juízo de garantias. Se for aplicado à risca, precisaríamos de inúmeros juízes, (praticamente um novo magistrado para cada comarca) e servidores em todo o Estado só para tal atividade. Por isso, estamos desenhando uma forma de atender esta determinação do Supremo Tribunal, sem inviabilizar o Judiciário e prejudicar a execução do orçamento anual. 
 
Para encerrar, como o senhor analisa a crise surgida entre os poderes Judiciário e Legislativo em nível nacional?

Os Três Poderes da República devem ser harmônicos e independentes, aliás, este é o texto do artigo 2º da nossa Constituição Federal. A palavra “harmonia” é uma maneira de se complementarem e se limitarem em suas ações. Sabemos que a forma de se alcançar a harmonia por vezes passa por diálogos mais intensos. Isto não é incomum. Portanto tenho esperança que tudo, ao final, se alinhe e possamos manter nossa nação gigante e próspera.

 

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