Um alívio ao sofrimento característico dos hospitais. Assim é a Classe Hospitalar localizada no 6º andar da Santa Casa em Campo Grande. Espaço onde as crianças lembram da infância, apesar da ingestão do soro fisiológico na veia, dos remédios ou da imobilização dos membros com o gesso.
(Foto: Maressa Mendonça/Portal Correio do Estado)
"Aqui é um atendimento adaptado, um espaço adaptado. Seguimos o referencial curricular, mas adaptamos para que se torne atraente ao aluno", explica a coordenadora do projeto, professora Vera Aparecida Varzin Cabistany.
Segundo ela, essa adaptação ocorre porque a realidade da criança internada é muito diferente. "Tem a febre, tem a dor, o curativo. Têm todas essas questões no dia dele".
E quando chega a hora da medicação, a criança deixa a sala por um tempo e volta para o leito. "Aqui nesse espaço não acontece nenhum procedimento. É um combinado que temos com médicos e enfermeiros de não associar a esse espaço feito para elas brincarem".
Outra diferença, mas desta vez positiva, é a presença da família no processo de aprendizagem da criança, o que nem sempre ocorre na escola regular. "Aqui, a mãe está presente em alguns momentos de conquista do filho".
SETOR DE QUEIMADOS
Acompanhados dos pais, três garotos que estavam internados no setor de queimados do hospital, na última quinta-feira (17), conversaram com a reportagem do Portal Correio do Estado. Davi Ortiz, de 7 anos, e o amigo Rafael Fernandes da Silva, 8, e Gabriel Esquivel, de 9 anos.
Gabriel diz que "foi bom" saber da existência de um projeto como aquele no hospital.
"Gosto de leitura e ela traz os livros", contou ele, apontando para a professora Mari Sandra, responsável pelo setor. Opinião compartilhada por Rafael e Davi.
O pai de Davi, Daniel Ortiz, 44, relatou que uma das preocupações dele era a de o filho perder o ano letivo. "Não sabia que tinha aula aqui. A professora chegou e explicou como era. Pra eles é bom, faz com eles melhorem".
A PERDA
Mas como a cura nem sempre é possível, os professores são "obrigados" a desenvolverem
a capacidade de recuperar o ânimo. "Você chora junto, você sofre junto. Não tem como ir embora, fechar a porta e esquecer o aluno", declara Vera ao lembrar da morte de um garoto de cinco anos que morreu de câncer. "Assim como a alimentação, a educação também faz parte do processo de cura deles", finaliza a professora.
O PROJETO
A Classe Hospitalar Santa Casa de Campo Grande foi criada em 1996, no setor de queimados e posteriormente, em 2002, foi estendida para outros setores como a pediatria, atendendo crianças e adolescentes de 0 até 18 anos. Hoje a Classe Hospitalar atende, por ano, uma média de 1.733 garotos e garotas que precisam ficar internados no hospital, mas que também precisam continuar estudando.
As salas se localizam na Pediatria da Santa casa, no 6° andar, 2° andar, Centro de
Oncologia/Hematologia (ambulatório) e Psiquiatria. Entre pedagogos e professores de área, nove profissionais da educação trabalham naquele hospital.