A vida dos moradores e comerciantes da região da Avenida Júlio de Castilhos não é a mesma desde o início da revitalização da via, em 22 de agosto de 2011. Quase três anos e meio depois, as reclamações continuam e a obra que foi concluída há meses nem sequer teve cerimônia de inauguração. Para quem vive da avenida, só resta a incerteza.
“Estas placas por enquanto não estão funcionando. Disseram que iam fazer uma experiência de alguns meses para definir a situação do estacionamento na via, mas isso já faz um ano e de certo vão tirar quando inaugurar”, conta o ambulante José Sobriho do Nascimento, 65 anos. Há 20 anos ele fez da avenida seu ponto de venda de mercadorias para carros, que são expostas no seu próprio automóvel, que fica estacionado no horário comercial na avenida.
Segundo ele, a revitalização só trouxe prejuízo para quem tem negócios no local. “Aumentaram mais de um metro do canteiro central e quando realmente proibirem de estacionar aqui vai prejudicar muito os comerciantes que não têm espaço para os carros dos seus clientes”, acrescentou. José trabalha sem saber até quando terá seu ponto. “A gente vive na incerteza”, lamenta.
Segundo a assessoria do município, a revitalização da via foi pensada para retirar os estacionamento do local, já que o lugar era cenário dos maiores índices de acidentes com mortes e vítimas graves. Até o momento não há projeto em andamento para reverter a situação, enquanto isso permanece o “vale-tudo” dos motoristas na avenida. A costureira Dirce Barros, 38 anos, estacionou na linha amarela em horário proibido. “Estacionei porque o meio-fio é branco, não sabia que não podia. Me confundi”, ressaltou ela que também reclamou que a pista é pequena demais para o fluxo de veículos.
O mecânico Edmauro Júnior Rodrigues, 18 anos, também estava irregular. “Aqui foi muito mal feito. Eles tinham que tirar o canteiro central para dar mais espaço aos carros. É complicado demais conseguir parar e, ao mesmo tempo, desviar de quem para como eu”, justificou. Outra reclamação comum é a dificuldade de fazer o retorno. “Além de ser uma via muito apertada, demora demais para fazer o contorno, ficou muito longe”, argumentou o motorista Mauro Silva, 45 anos.
Alguns sugerem horário especial para carga e descarga de caminhões, que param sem a menor cerimônia em local proibido. Basta circular por cinco minutos na avenida e ver o festival de irregularidades, que são feitas sem qualquer receio da fiscalização. “Há carros que param em cima da calçada e atrapalham os pedestres. Fora que trancam a passagem de cadeirantes e o piso tátil dos cegos, impossibilitando a acessibilidade. Quando começarem a multar e doer no bolso, as pessoas vão começar a respeitar. Não custa nada estacionar nas ruas laterais”, disse a estudante Regina Maria Coutinho, 27 anos, mostrando 30 carros estacionados na calçada de um posto de gasolina desativado.
Com a dificuldade de um consenso entre os usuários da via e sem opção para solucionar o problema, vários comerciantes fecharam as portas desde que o projeto de revitalização saiu do papel. Com a entrega das obras, o problema continuou com a restrição do horário de estacionamento, que rende multa para quem parar o carro na via das 6h às 10h e das 16h até 19h. A prefeitura não informou quantas autuações foram feitas até o momento no local.
O dono de uma pastelaria, Victor Luiz Fachini, 64 anos, conta que o movimento caiu 30% desde então. “Ficou ruim demais para os comerciantes. Os nossos clientes não podem parar o carro para consumir aqui, fora que não tem retorno”, desabafou. Ele, assim como todos os demais comerciantes, vive com as promessas de que vão haver alterações, mas nada é feito. “Falaram que iam tirar as faixas do meio. Depois que iam dar espaço para os pedestres passar e também iriam melhorar o lugar para fazer o contorno. Mas até agora estamos esperando”.
O projeto, que começou na gestão do prefeito Nelson Trad Filho, depois por Alcides Bernal e que concluiu na do Gilmar Olarte, custou R$ 18.364.888,59. Os 95% deste recurso vieram do Pró-transporte e 5% do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A obra compreendeu a reestruturação de 6,8 quilômetros de via, com 3,3 quilômetros de drenagem de águas pluviais e mais 9,7 quilômetros nas ruas vizinhas, promovendo a readequação do sistema de drenagem.