Eles ainda moravam próximo ao bairro Marcos Roberto, em Campo Grande, quando começaram a se incomodar com a quantidade de pontos de venda de entorpecentes na região.
Deste desconforto, o pai Ian Carlos Gomes Lopes, de 53 anos, a mãe Marlene Paiva Lopes, 51, e filha, Aline Paiva Lopes tiveram a ideia de criar projeto social para ocupar o tempo das crianças e evitar o contato delas com as drogas. Assim surgiu, em 2014, a Missão para o Desenvolvimento Humano e Social (MUDHS).
Ian Carlos relata que, nos primeiros meses de projeto, os moradores tinham certa desconfiança por acreditarem se tratar de “politicagem”. Mas o receio durou pouco tempo e hoje já são 50 crianças e adolescentes atendidos em aulas de informática, música, inglês, artesanato, futebol e até zumba. “Agora não precisa mais chamar porque as pessoas já conhecem”, diz.
A MUDHS divide espaço com a Comunidade Evangélica Videira em que Ian Carlos é pastor, mas, ele ressalta que o foco do projeto não é evangelização. “É passar valores e mostrar que eles constroem a história deles a partir do que decidem”.
OUTRAS HISTÓRIAS
Ian Carlos conta que a maioria das crianças atendidas pelo projeto são vítimas de abandono paterno e já presenciaram cenas de violência. Ainda segundo ele, são frequentes os casos em que as crianças vivenciam a rotatividade de residência.
“Mora com a mãe, depois com o tio, depois com o pai. Isso compromete a continuidade do trabalho e muitas vezes acaba em evasão escolar. A própria vida que eles levam impede eles de criarem vínculo”, lamenta.
Ainda segundo Ian Carlos, em casos mais dramáticos, algumas crianças relataram até terem tido contato indireto com as drogas. “Já disseram coisas como: ‘mamãe faz paradinha’. Nosso trabalho é uma corrida contra o tempo”, declara.
O pastor — que também é psicanalista, professor de teologia e psicologia — afirma não se impressionar com esses relatos porque trabalha na área de combate ao uso de drogas há 20 anos. “Esse mal vai alcançar a gente de um jeito ou de outro, seja com usuário na família ou com efeitos colaterais como a violência”.
DESAFIOS
A inscrição das crianças no projeto é feita pelos responsáveis. A psicóloga da MUDHS, que é filha de Ian Carlos, vai até a casa da família e faz uma entrevista com os moradores. Depois do cadastro, as crianças podem participar das atividades.
Hoje, são dez voluntários atuando no projeto e, segundo Ian Carlos, o principal desafio é encontrar pessoas capacitadas para exercerem as atividades voluntárias.
Eles já entraram com pedido de solicitação do CNPJ da MUDHS e sonham com parcerias para ofertarem cursos profissionalizantes.
Solicitar estagiários, de cursos como serviço social e pedagogia, para atuarem no projeto é outra meta.
A MUDHS fica na Avenida Sol Nascente, 193, no bairro Marcos Roberto em Campo Grande.