Cidades

SUPERAÇÃO

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Estudante de escola pública vence desafios e é aprovada em Medicina na Federal

Carla chegou a faltar aulas de cursinho por não ter dinheiro para passagens

MARESSA MENDONÇA

18/03/2017 - 12h30
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Noites sem dormir, crises de alergia, ônibus lotado e falta de dinheiro para arcar com os gastos da passagem. Estes foram alguns dos obstáculos enfrentados pela jovem Carla Estfani Lopes dos Santos, de 21 anos, antes de ser aprovada em Medicina na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Filha de diarista e estudante de escola pública, ela resume que a rotina entre o sonho e a concretização “foi difícil. Quase impossível”.

Carla conta que quando concluiu o Ensino Médio, em 2012, ainda não estava convicta em relação ao curso de graduação. Na ocasião, ela cogitou Direito — porque trabalhava na Defensoria Pública do Estado — Economia e até Física.

Professor do Instituto Luther King, ONG que oferece cursinho gratuito para pessoas em vulnerabilidade socioeconômica, é quem orientou a estudante em 2013. “Ele disse: ‘pelo seu ritmo de estudos você vai longe. Faça Medicina! Vejo nos seus olhos um futuro brilhante como médica’”, lembra.

Ela julgou ser loucura o conselho dado pelo professor, mas considerou. “Fiquei pensando a noite toda. Sabia o quanto era difícil. Algo surreal para a filha de uma empregada doméstica”.

PALAVRA DE MÃE

Carla lembra da mãe recebendo a informação sobre a escolha dela por Medicina com desconfiança. O receio não tinha relação com o potencial da garota, mas com as condições financeiras da família.

“Eram frequentes os comentários de que eu não conseguiria. Que era difícil. Que eu não teria tempo para estudar ou que o filho de ‘fulana’ sempre estudou em escola particular e demorou ou não conseguiu passar”, recorda ela das críticas com as quais teve de lidar fora de casa.

Em pensamento, ela rebatia os comentários negativos. “Eu não era filha de fulana. Não nasci em berço de ouro. Comecei a trabalhar com 12 anos e mesmo assim sempre tirei notas boas na escola”, ponderava.

As críticas a impulsionaram a estudar mais e, depois da aprovação, viraram até motivo de agradecimento. “Me fortaleciam num efeito inverso ao proposto”, diz. 

Carla com a mãe, em casa  (Foto: Valdenir Rezende/Correio do Estado)

DIFICULDADES

Os comentários negativos foram uma das situações mais “leves” que ela teve de lidar. Na segunda vez que fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Carla recebeu nota 360 na redação. 

“Tinha plena convicção que aquela nota não era correspondente aos meus estudos. Entrei com recurso, chorei e foi um ano perdido”. 

Nesse período, ela enfrentava jornada dupla entre o emprego e o cursinho porque tinha que auxiliar a mãe com o orçamento doméstico.

Em 2015, foi preciso tomar uma decisão. “Eu não podia mais continuar no Instituto Luther King porque o máximo que o aluno pode ficar são dois anos e já tinha percebido que os dois [trabalho e estudo] eu não ia conseguir”. 

Carla também pensava na dificuldade que seria estudar em casa, dividindo espaço com cinco irmãos e sem porta no quarto para manter o silêncio e privacidade necessários. 

Ela optou por estudar, pediu exoneração e conseguiu bolsa em cursinho particular. “Ia com pão no estômago e pegava marmitex no almoço. Não era todo dia que tinha dinheiro para salgado ou frutinha em casa para matar a fome. Para enganar a fome eu tomei muita água. Veja pelo lado bom, sou uma pessoa hidratada”, brinca.

Em uma ocasião, ela faltou três semanas consecutivas e foi chamada na coordenação do cursinho, onde foi lembrada que não poderia faltar por ser isenta da mensalidade. 

“Recordo bem de dizer que faltei porque não tinha dinheiro para o passe de ônibus. Foi um momento constrangedor e não desejo pra ninguém. Mas eu pegava a cópia dos simulados e fazia em casa no dia seguinte”. 

Ainda durante esse período de estudo, a mãe de Carla ficou desempregada e ela teve o nome negativado. Pouco antes das provas, a jovem teve crises de alergia e já no dia dos exames teve de se desconcentrar do barulho de choro de bebê na sala ao lado. Em outra ocasião, outra candidata teve convulsão na sala e acabou desconcentrado todos os estudantes. 

“Tinha plena convicção que se não tivesse de lutar com essas questões eu já teria sido aprovada. Mas acredito que tudo tem seu tempo, então respeitei o meu”. 

Ela chegou a ser aprovada em Enfermagem e Odontologia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), mas a aprovação em Medicina só ocorreu neste ano. 

“O desejo pela Medicina nasceu em mim como agulha no palheiro e hoje não me vejo fazendo outra coisa”, declara.

Carla é o retrato de uma conquista depois de  esforço e dedicação (Foto: Valdenir Rezende/Correio do Estado)

RECADO

Carla foi aprovada por meio das cotas sociais e faz duras críticas ao conceito de “meritocracia” — em que o sucesso profissional é consequência exclusiva do esforço individual. “Estudei muito, muito mesmo. Abdiquei de tudo o que eu tinha e dei “o sangue” para alcançar essa aprovação, mas tenho certeza que se não fosse ajuda de muitas pessoas eu não teria chegado até aqui”, diz ela, ressaltando ser um erro tratar casos como o dela como regra e não exceção.

Carla pontua ainda que a meritocracia é válida apenas quando todos têm as mesmas condições de acesso e, por este motivo, é questionável no Brasil. “Enquanto houver abismos entre o ensino público e o privado, a meritocracia será enaltecida para camuflar a ineficiência do Estado e as mazelas sociais”, opina.

A estudante declara ainda que “cotista não é preguiçoso e nem usurpador. É só observar na época do Enem as reclamações sobre a infraestrutura dos locais de prova. Se para alguns incomoda fazer dois dias de avaliação num ambiente assim, imagina para quem estuda lá desde o Ensino Fundamental?”.

FUTURO

Carla já está matriculada no curso e aguarda pelo início das aulas. Em Dourados, ela será mantida pela mãe “que saiu do trabalho e voltou a fazer diárias para me manter em outra cidade” e com auxílio de amigos.

Ela conta orgulhosa que será a primeira da família a entrar na Universidade e atribuiu o sucesso às exigências da mãe que “não aceitava menos de 8 no boletim e não comparecia as premiações da escola por acreditar que boas notas são obrigação”.

DICA

A jovem não gosta de falar quantas horas diárias dedicava aos estudos por acreditar que não existe “fórmula” e defender a ideia de qualidade da leitura. Mas afirmou que estudava até durante os fins de semana e evitava redes sociais.

E para aqueles que têm o sonho semelhante ao dela, Carla aconselha: "chore nas tentativas sem êxitos, mas levante no dia seguinte, ouça Raul Seixas e tente outra vez!".

Em relação ao futuro, a jovem afirma que “talvez, não fique entre os maiores médicos brasileiros, mas pretendo ser aquela que trato qualquer paciente com dignidade e respeito, como todo ser humano deve ser tratado” e antecipa “a Cruz Vermelha que me aguarde”, brinca.

 

Reparos

Prefeitura irá notificar morador que modificou via para fugir dos buracos em bairro de Campo Grande

Secretaria Municipal, responsável por veículos que atolaram em rua "problemática" do Jardim Itatiaia, responsabiliza morador que fez a instalação de paralelepidepos por buraco onde mais de dez carros atolaram

17/04/2024 17h30

Para o morador Roberto Pinheiro que resgatou mais de dez veículos entre segunda e terça-feira a via com os parelelepípedos, na rua dos Estudantes era o único caminho transitável para que ele pudesse voltar para casa Gerson Oliveira / Correio do Estado

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Após um morador cansado de esperar pelo asfalto instalar paralelepípedos para evitar buracos na rua dos Estudantes, no Jardim Itatiaia, a Prefeitura de Campo Grande, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), informou que irá notificar o munícipe.

A informação foi dada durante atualização da Prefeitura, na noite de terça-feira (16) no balanço de ações emergenciais de pontos críticos que foram afetados pela chuva. 

A rua dos Estudantes tem cruzamento com a Rua Conde de São Joaquim, onde desde o início da semana, em decorrência da chuva acima da média, mais de dez veículos atolaram, incluindo o caminhão e o trator da Sisep que estiveram no local no início da tarde para jogar cascalho na via

 "Outra via que a Sisep atuou foi na Rua Conde de São Joaquim, no Bairro Tiradentes, próximo à Avenida Três Barras. No local foi executado reparo emergencial para o fechamento da vala aberta pela enxurrada. Foi constatado que o problema nessa via foi provocado também por uma obra irregular executada por morador do bairro, que sem autorização colocou paralepípedos em um trecho da rua. O morador será notificado para retirar o material e depois a Sisep realizará serviços para melhorar as condições das vias locais", informou a Prefeitura.
 

 

 

 

Outro trator foi enviado até o local para "resgatar" os veículos da Sisep e finalmente o buraco na rua Conde de São Joaquim recebeu o cascalho, conforme relatou o morador Roberto Pinheiro dos Santos, de 34 anos, que relatou ao Correio do Estado que o local passou por vistoria de um engenheiro da Águas Guariroba. 

"Veio o rapaz da Águas, Guariroba, que também é engenheiro, aí disse que o secretário da Prefeitura está culpando ele da rede de esgoto que foi passada aqui, que foi uma má compactação dele, que ocasionou a abrir essa vala na rua", disse Roberto.

Com relação aos paralelepípedos na rua dos Estudantes, Roberto apontou que era o único caminho viável para chegar até sua residência quando o buraco abriu próximo à Avenida Três Barras.

"Se não fosse aqueles paralelepípedos, era meio impossível eu entrar em casa. Ter acesso àquela rua de casa, porque ali segurou muito o barro e os buracos, né? Você viu o fluxo de água tamanho que era. Então acho que ia ser mais improvável eu chegar em casa do que se não tivesse o paralelepípedo. O cara fez um benefício e está levando culpa aí, né? Aí a prefeitura quer achar um culpado, né?"

 

 

 

 

A reportagem entrou em contato com a Águas Guariroba, que informou que realizou a ligação da rede de esgoto em 2023 e implementou a rede na parte mais alta da via, justamente para evitar os pontos de erosões que são formados em decorrência da chuva. Veja a nota na íntegra:

"Águas Guariroba informa que as obras para implantação da rede de esgoto na Rua Conde de São Joaquim foram realizadas em março de 2023, portanto, há mais de um ano. Na época, a rede foi implantada na parte mais alta da via, sentido Avenida Três Barras, lado oposto ao da erosão. Após a implantação da rede, o solo foi recomposto e compacto, conforme normas da ABNT e, até o momento, não apresentou problemas. A concessionária reforça que o ponto da via que está apresentando erosões é o oposto de onde a rede de esgoto foi instalada e pondera como possível causa para a erosão o percurso da água da chuva, já que a via não possui rede de drenagem".

A Sisep respondeu por meio de assessoria que o trabalho emergencial na via foi feito durante a tarde da terça-feira (16) e sem mencionar prazo ressaltou que a administração municipal tem previsão de pavimentar as ruas do Jardim Itatiaia. Veja a nota na íntegra:

"Assim que a chuva deu uma pequena trégua na tarde desta terça-feira (16) a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep) fez o trabalho emergencial para o controle da valeta aberta pela enxurrada na Rua Conde de São Joaquim. A administração municipal tem previsão de pavimentar vias no Jardim Itatiaia e aquelas que não forem asfaltadas nesta fase receberam cascalhamento. Assim que começar o período de estiagem serão intensificados os trabalhos de manutenção das vias sem asfalto".

Chuva acima da média

Nos últimos quatro dias, Campo Grande registrou a quantidade de chuva esperada para todo o mês de abril, com 89,4 mm observados pelo Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (CEMTEC). Desde o dia 1º, a estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) já notificou 130,8 mm, número 46,3% superior à média histórica.

 

** Colaborou Alanis Netto

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Cidades

Imasul convoca proprietários de imóveis no Pantanal com processos em andamento para adequação à lei

Proprietários que não fizerem os ajustes terão processo de licenciamento extinto

17/04/2024 16h30

SOS Pantanal/Divulgação

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O Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) reforça a convocação de todos os proprietários de imóveis localizados na Área de Uso Restrito do Pantanal (AUR-Pantanal) e que possuam processos de licenciamento ambiental em tramitação, para procederem aos ajustes determinados pela Lei do Pantanal nos referidos Cadastros Ambientais Rurais (CAR), no prazo de 180 dias.

Esse prazo está valendo desde a publicação do Edital de Convocação no Diário Oficial do Estado (página 83), que aconteceu no dia 9 de abril.

"Se o proprietário não fizer os ajustes necessários no CAR, o processo de licenciamento é automaticamente extinto", explicou o diretor presidente do Imasul, André Borges.

Os proprietários ou seus representantes devem acessar o sistema do Imasul e carregar as informações necessárias, exigidas pela Lei do Pantanal, para só então seus processos de licenciamento terem seguimento junto ao órgão ambiental.

Essa providência é necessária porque, conforme esclareceu Borges, a Lei do Pantanal (Lei 6.160 de 18 de dezembro de 2023) descreve uma série de novos pontos sensíveis na paisagem pantaneira como os capões, cordinheiras, landis; também as salinas, as veredas e os meandros abandonados (espécies de ilhas por onde passavam rios e que, com a mudança de curso, ficaram cercadas por água).

Todas essas formações geográficas passam a ser protegidas, inclusive em seu entorno, e precisam ser identificadas no Cadastro Ambiental Rural das propriedades.

Anexo ao Edital de Notificação foi publicada a lista de 158 processos de licenciamento ambiental em andamento no Imasul, que são afetados pela medida.

Além desses nomes, os  requerentes com propriedades no Pantanal que têm processo em tramitação e não constam na listagem, devem protocolar requerimento no Imasul solicitando a abertura do sistema para proceder aos ajustes necessários nos respectivos Cadastros Ambientais Rurais.

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