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Cartão postal de Campo Grande,
Lago do Amor pode sumir em 21 anos

Sedimentos dão lugar ao local onde habitam capivaras e jacarés

LÚCIA MOREL

28/03/2017 - 07h00
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Dentro de 21 anos, o Lago do Amor, localizado no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) deve desaparecer. Isso devido o processo de assoreamento, que começou a ser monitorado em 2002. De lá pra cá, o corpo d’água já perdeu mais de 30% de sua capacidade de volume, dando lugar aos sedimentos. Em área, a perda corresponde à extensão de três campos de futebol. 

O coordenador do Grupo de Pesquisa Hidrologia, Erosão e Sedimento (HEroS), da UFMS, Teodorico Alves Sobrinho, explica que a redução de volume do lago é de “aproximadamente 30%, de agosto de 2008 a março de 2017, correspondendo a 58.500 m³”, o mesmo que 23 piscinas olímpicas. Já de área, “houve decréscimo linear de 21%, representando 20.700 m², entre 2008 e 2017. Essa redução de área corresponde a  aproximadamente três campos de futebol”.

De acordo com o pesquisador, “o reservatório estará completamente cheio de sedimentos no ano de 2038, ou seja, nos próximos 21 anos”. Isso, com base na taxa de redução de volume já observada até agora. No entanto, pondera que isso pode ser ocorrer apenas se nada for feito. “Esses impactos causados, como o caso do assoreamento, podem ser evitados quando aplicadas medidas técnicas preventivas e administrativas, implantadas geralmente por meio de planos diretores”.

A principal razão do assoreamento é a ação humana, seja através de obras e construções no entorno das Bacias dos córregos Bandeira e Cabaças, que fornecem água ao lago, ou ao jogar lixo nas galerias pluviais. “O local de maior redução das margens é onde deságua o córrego Bandeira”, afirma o pesquisador, ao exemplificar que a área ao redor deste corpo d’água, há implantação de loteamentos e pavimentação recentes. 

“Verifica-se nessa urbanização recente, pouca preocupação com respeito aos aspectos conservacionistas de solo”, sustenta. Exemplo disso, segundo Teodorico, é perceptível pelo “traçado das ruas e pela inexistência de estruturas de contenção de águas superficiais”.

Com relação à urbanização ao lado da bacia do córrego Cabaças, ela é mais antiga, “e, se encontra, de certa forma, mais estabilizada, o que reduz o aporte de sedimento para o lago”. No entanto, em ambas as bacias, conforme o pesquisador, há “inexistência de estruturas de contenção de escoamento superficial, além de maior número de terrenos sem construção e sem cobertura vegetal”. 

O professor da UFMS sustenta ainda que todos os meses a universidade realiza a limpeza manual do lago, “com a retirada de mais de duas toneladas de entulho, ou lixo urbano”. 

O Lago do Amor foi construído a partir do barramento no encontro de dois Córregos, o Cabaça e o Bandeira. Seu uso, além de servir como reservatório de contenção de sedimentos inclui a recreação e habitat de fauna nativa e flora. Para o professor, “os impactos desse assoreamento no ecossistema local se dá, principalmente, na perda de fauna e flora locais, por motivos de excesso de sedimentos na água, alteração da turbidez e qualidade da água. Além da perda relativa da área de lazer”.

A Universidade informou que realiza limpeza quinzenal - diário em dias de chuva - no entorno e dentro do lago, além de plantio de árvores, por se tratar de área de preservação permanente (APP). O objetivo é evitar deslizamento de solo e a consequente deposição dos sedimentos no seu leito. O trabalho principal, no entanto, deve ser feito pelo município, com ações nas bacias do Bandeira e do Cabaças.

Capivaras são uma das atrações no Lago do Amor (Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado)

INVESTIGAÇÃO

O Ministério Público Estadual (MPE) investiga desde o ano passado o assoreamento do lago e espera, através da UFMS, Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep) e Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur) que se chegue a uma solução para o problema. 

Em reunião na semana passada com a promotora do meio ambiente, Luz Marina Borges, da 26ª Promotoria, ficou acordado que dentro de 40 dias a universidade e a prefeitura se reunirão e informarão ao MPE “um plano de ação conjunto em face do Lago, no sentido de dialogarem acerca da contribuição a ser feita por cada um visando chegar a um projeto para resolver o problema a ser a levado a efeito pelo Município”.

Lago corre risco de sumir (Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado)

Até o momento, a UFMS informou ao ministério que estudo revelou aumento da deposição de sedimentos no lago e que “se de disponibiliza a participar com dados, estudos e levantamentos de forma a auxiliar o Município”. A Semadur, por sua vez, disse que “já estão sendo levadas a efeito uma gama de providências a montante com o escopo de mitigar o efeito no Lago do Amor, inclusive com levantamentos na Microbacia do Córrego Bandeira, revisão do plano diretor, etc”, conforme informa o inquérito.

A responsabilidade principal recai sobre a administração municipal porque o assoreamento é resultado das ações ao redor das bacias que alimentam o lago e não é causado pela universidade ou mesmo pela comunidade universitária. “A UFMS vem sendo autuada pelos órgãos ambientais de forma injusta. O problema nasce fora dos limites da universidade. Ou seja, sedimento não nasce no lago e sim vem de áreas a montante do mesmo”, afirma Sobrinho.

Apesar de não ser parte do inquérito em andamento, o pesquisador defende que o governo de Mato Grosso do Sul deve se envolver no debate e no encontro de soluções. “A UFMS, através da sua Administração, juntamente com a prefeitura estão buscando soluções para a situação. No entanto, é também problema de gestão Estadual de Recursos Hídricos, pois ação em corpos de água é de atribuição do Estado, conforme legislação”, afirma. 

Jacaré também é visto no local (Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado)

CAMPO GRANDE

Bioparque Pantanal terá Papai Noel mergulhador em programação especial de Natal

Atração promete encantar visitantes de todas as idades

14/12/2025 18h00

Atração promete encantar visitantes de todas as idades

Atração promete encantar visitantes de todas as idades Divulgação/ Gov MS

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O Bioparque Pantanal preparou uma programação especial de Natal para receber o público em dezembro, com uma das atrações mais aguardadas do período: o Papai Noel Mergulhador.

A apresentação está marcada para as 10h dos dias 23 e 24 e promete surpreender famílias e visitantes ao unir magia, educação ambiental e o contato direto com a biodiversidade.

A ação, que já se tornou tradicional no calendário do atrativo, leva o personagem natalino para dentro dos tanques, reforçando de forma lúdica a importância da conservação ambiental e da relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza.

Atenção nos horários!

No dia 24 de dezembro, o Bioparque Pantanal funcionará em horário especial, das 8h30 às 14h30, permitindo que o público aproveite a véspera de Natal com uma experiência diferente em um dos maiores complexos de água doce do mundo. O último horário de entrada será até 13h30.

Já nos dias 25 e 31 de dezembro, não haverá visitação. O empreendimento também permanecerá fechado entre 1º e 7 de janeiro de 2026, período destinado à realização de manutenções internas, voltadas à segurança dos visitantes e ao bem-estar dos animais. As atividades serão retomadas normalmente no dia 8 de janeiro.

Bioparque Pantanal

Inaugurado em março de 2022, o Bioparque Pantanal já recebeu mais de 1 milhão de visitantes e se consolidou como referência nacional em turismo científico, inclusivo, sustentável e contemplativo. O espaço é reconhecido pela estrutura moderna e pelo compromisso com a educação ambiental, acessibilidade e conservação da fauna.

A visita ao Bioparque Pantanal é gratuita, mas o agendamento é obrigatório e deve ser feito exclusivamente pelo site bioparquepantanal.ms.gov.br.

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MANIFESTAÇÃO

"Sem anistia", manifestantes protestam contra PL da Dosimetria em todo o Brasil

Atos ocorreram em diversas cidades e classificam projeto como anistia disfarçada aos envolvidos no 8 de Janeiro

14/12/2025 17h00

Os atos foram organizados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo

Os atos foram organizados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo Divulgação/ Agência Brasil

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Manifestantes de diversas cidades brasileiras foram às ruas neste domingo (14) em protesto contra a aprovação do chamado Projeto de Lei da Dosimetria, que altera o cálculo das penas aplicadas aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Para os organizadores, o texto representa uma “anistia disfarçada” e abre caminho para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e integrantes de seu governo.

Os atos foram organizados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reuniram movimentos sociais, centrais sindicais, estudantes e partidos de esquerda. Pela manhã, manifestações ocorreram em capitais como Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Maceió, Fortaleza, Salvador e Brasília.

Na capital federal, o protesto teve início em frente ao Museu da República e seguiu em direção ao Congresso Nacional. Durante o trajeto, manifestantes entoaram palavras de ordem e exibiram cartazes com frases como “Sem anistia para golpista” e críticas diretas ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Campo Grande

Em resposta a aprovação por 291 a 148 votos na última quarta-feira (10), centenas de campo-grandenses liberais se encontraram na esquina da Rua 14 de Julho com a Avenida Afonso Pena para protestar contra a tentativa de Anistia das pessoas que foram condenadas pelo 8 de janeiro, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além de apoiadores, a manifestação contou com a presença de algumas autoridades da esquerda de MS, como o deputado estadual Pedro Kemp (PT), que foi o primeiro político a chegar no local.

Em conversa com a reportagem, o parlamentar falou sobre o movimento desta manhã e a importância de dar uma rápida resposta ao PL da Dosimetria.

"Mais uma vez, a população dá um recado para a Câmara dos Deputados, que está votando na contramão de tudo aquilo que a população deseja, porque quem atentou contra a democracia, quem quebrou a série dos poderes em Brasília, quem tentou dar um golpe de estado no Brasil tem que ser condenado e pagar por esses crimes. Dar uma lição na história de que nós não aceitamos mais golpes no Brasil", disse o petista.

O ex-deputado estadual e agora candidato ao governo de Mato Grosso do Sul pelo Partido dos Trabalhadores, como oficializado neste sábado (13) pelo presidente do partido, Fábio Trad também compareceu ao protesto.

"É um momento muito importante, mas não só para a esquerda, para todos os democratas. Eu convido também a direita liberal que respeita a democracia, aquela direita dos anos 90 que respeitava a vontade das urnas, que não apoiava os Estados Unidos contra o próprio Brasil. Ela deveria estar aqui conosco, porque o que está em jogo aqui hoje não é só uma disputa partidária, é uma questão de civilização e barbárie", destaca.

Paulista ocupada

Em São Paulo, a Avenida Paulista foi ocupada por manifestantes concentrados nos quarteirões próximos ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). O ato reuniu representantes de sindicatos, movimentos sociais, estudantis e partidos políticos contrários ao projeto.

Durante o protesto, o coro de “sem anistia” foi repetido diversas vezes. Cartazes com dizeres como “Congresso inimigo do povo” ganharam destaque, assim como críticas ao comando da Câmara. Parte dos participantes vestiu roupas verde e amarelas para reforçar a rejeição à anistia dos envolvidos nos atos golpistas.

A votação do PL na Câmara ocorreu em meio a um episódio de tensão, após a retirada forçada do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) da Mesa Diretora pela Polícia Legislativa. Jornalistas foram impedidos de acompanhar a ação, e profissionais da imprensa relataram agressões.

Parlamentares da oposição avaliam que, com as mudanças previstas no texto, Bolsonaro poderia ter a pena reduzida de 7 anos e 8 meses para cerca de 2 anos e 4 meses em regime fechado, conforme o cálculo atual da Vara de Execuções Penais.

Segundo Juliana Donato, da Frente Povo Sem Medo, a mobilização foi motivada pela gravidade da proposta. “Nós entendemos que isso é uma anistia. Os crimes cometidos contra a democracia são muito graves e não podem ser perdoados. A impunidade abre espaço para novas tentativas de golpe”, afirmou. Ela acredita que a pressão popular pode influenciar a tramitação do projeto no Senado.

Protestos no Rio

No Rio de Janeiro, milhares de pessoas ocuparam as ruas próximas ao Posto 5, em Copacabana. O ato contou com a participação de movimentos sociais, sindicatos, estudantes, parlamentares, artistas e militantes de esquerda.

A manifestação ganhou caráter cultural com a participação de artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil, que se apresentaram durante a tarde. O evento foi batizado de “Ato Musical 2: o retorno”, em referência a uma mobilização anterior contra a PEC da Blindagem.

Além do PL da Dosimetria, os participantes protestaram contra a escala de seis dias de trabalho por um de descanso, o marco temporal para demarcação de terras indígenas, o feminicídio e cobraram transparência em investigações envolvendo o Banco Master.

Uma performance realizada por um grupo de mulheres chamou atenção ao comparar parlamentares favoráveis ao projeto a “ratos traiçoeiros”, com a distribuição de animais de borracha e fotos de deputados que votaram pela redução das penas.

A aposentada Angela Tarnapolsky, de 72 anos, afirmou que não poderia se omitir diante do que considera retrocessos democráticos. “Depois de tudo o que vivi desde a ditadura, é impossível aceitar um Congresso com esse nível de retrocesso”, declarou.

O deputado Glauber Braga participou do ato e agradeceu o apoio popular. Com a suspensão de seu mandato por seis meses, ele afirmou que levará o gabinete “para as ruas” e seguirá mobilizado contra o PL da Dosimetria e contra as chamadas emendas Pix, que permitem repasses de recursos públicos sem detalhamento do uso.

O que prevê o projeto

O PL da Dosimetria estabelece que os crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição do Estado Democrático de Direito, quando cometidos no mesmo contexto, sejam punidos apenas com a pena mais grave, e não pela soma das penas. O texto também reduz o tempo necessário para a progressão de regime, do fechado para o semiaberto ou aberto.

A proposta pode beneficiar, além de Bolsonaro, militares e ex-integrantes do alto escalão do governo anterior, como Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira, Walter Braga Netto e Augusto Heleno.

Parlamentares da oposição preveem, para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que o total da redução pode levar ao cumprimento de 2 anos e 4 meses em regime fechado em vez dos 7 anos e 8 meses pelo cálculo atual da vara de execução penal, segundo a Agência Câmara de Notícias. Mas a definição dos novos prazos será do STF e pode ser influenciada pelo trabalho e estudo em regime domiciliar, que diminuem o período de prisão.

O texto original previa anistia a todos os envolvidos nos atos de 8 de janeiro e dos acusados dos quatro grupos relacionados à tentativa de golpe de Estado julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mas esse artigo foi retirado do projeto.

**Colaborou Felipe Machado**

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