No dia a dia, histórias de superação e conquistas são construídas em Campo Grande. Em comemoração ao aniversário de 117 anos da cidade, a edição do Jornal Correio do Estado apresenta aos leitores trajetórias pessoais de campo-grandenses natos ou de coração, que estão entrelaçadas com peculiaridades da Cidade Morena. Algumas histórias serão publicadas no decorrer do dia no Portal Correio do Estado.
Assim como quase metade da população de Campo Grande, o carteiro Gilmar Alves Moreira, 57 anos, é natural de outro estado do Brasil e escolheu a capital sul-mato-grossense para morar há 27 anos. Além de adotar o município como cidade do coração, Moreira teve a oportunidade que muitas pessoas nascidas aqui não têm: acompanhar no dia- a- dia o desenvolvimento da cidade. Isso aconteceu por conta da profissão de Gilmar. Carteiro há 22 anos, de segunda a sexta-feira, ele percorre vários quilômetros a pé pela cidade.
Nem ele sabe precisar a distância percorrida, mas, com essa tarefa diária já pôde conhecer diferentes bairros da cidade, incluindo lugares que são ignorados pela maioria da população.
Em seu trajeto diário, são quatro horas andando pela região central e, entre os locais, a principal avenida de Campo Grande, a Afonso Pena.
Desde que começou o trabalho, Moreira afirma que as mudanças foram muitas e, para quem não está atento às pequenas alterações entre os anos, a Capital parece outra cidade.
“Nesse período de 22 anos [que trabalha como carteiro], a cidade mudou bastante. O tempo em que eu estou aqui, se eu tivesse saído, vamos supor: eu cheguei em 1989, se ficasse aqui dois anos, fosse embora, ficasse dois ou mais anos fora e voltasse, não reconheceria mais”, disse.
Segundo ele, as mudanças foram acontecendo progressivamente. “Os bairros cresceram bastante, a infraestrutura, o comércio. Quando eu comecei nos Correios, os bancos eram localizados praticamente na área central, era muito difícil agências bancárias em bairros. Hoje, tem agência bancária e comércio em tudo que é lugar”.
As principais modificações, no entanto, foram observadas por Moreira no centro da cidade, trecho no qual é responsável pela entrega das correspondências.
“No Centro, o crescimento foi vertical. Não tinha mais como expandir a cidade e ela expandiu verticalmente. Surgiram muitos prédios, muitas casas antigas foram demolidas e construíram muitos edifícios comerciais”, diz, acrescentando que a arquitetura mudou significativamente.
Além de acompanhar mudanças relacionadas à infraestrutura, Moreira também destaca a hospitalidade do campo-grandense e o bom relacionamento com a população, afirmando que fez muitos amigos com as “andanças” pela cidade.
“Na rua, somos muito bem tratados e bem recebidos em qualquer lugar. As pessoas nos recebem bem, nos tratam bem. O carteiro é muito bem quisto. Fiz muitos amigos nas casas e isso é muito gratificante”, disse. A má recepção fica apenas por conta dos cachorros. “Já fui mordido, mas isso é uma espécie de batismo dos carteiros”, brincou.
MIGRAÇÃO
Gilmar Moreira nasceu no Paraná. Mudou-se para São Paulo, onde morou por vários anos, até que decidiu vir para Campo Grande, a convite do irmão.
“Em São Paulo, estava muito difícil para mim o preço da moradia. Meu irmão já morava aqui e me chamou. Acabei vindo e me adaptei bem. Aqui consegui comprar minha casa, consegui um emprego e tudo mais”, afirma.
Depois dele, outros dois irmãos também adotaram Campo Grande e se mudaram para cá. Apenas um continua em São Paulo.
Eles fazem parte de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam que 47% da população que mora na cidade é natural de outros estados, de outros países ou de cidades do interior de Mato Grosso do Sul.
DESENVOLVIMENTO
No período de 27 anos, desde que Gilmar chegou, Campo Grande passou por diversas mudanças.
No centro da cidade, área que Gilmar percorre quase diariamente, a Afonso Pena ganhou canteiro novo, com ciclovia e sem os famosos carrinhos de lanche que tomavam conta dos espaços à noite. A Praça Ary Coelho passou por revitalização, sendo cercada com grades e com horário de funcionamento para maior segurança da população.
Além disso, Moreira pôde acompanhar também desde a fundação do Centro Comercial Popular, o Camelódromo, em 1998, com barracas de lona, até sua reforma em 2005, com espaços cobertos.
Réplica do relógio central foi implantada na esquina das avenidas Afonso Pena e Calógeras, no ano 2000. Ele foi originalmente construído na Afonso Pena com a Rua 14 de Julho e foi demolido em 1970.
Além disso, como já citado, Moreira acompanhou diversas mudanças, sendo as principais as relacionadas ao crescimento de bairros e prédios, do comércio e até o crescimento populacional, de áreas que antes não eram habitadas e agora estão tomadas por construções.
A expectativa é de continuar trabalhando nos Correios até a aposentadoria ou até quando “a empresa quiser”. Dessa forma, ele ainda pretende andar muitos quilômetros na Capital, fazendo seu trabalho ao mesmo tempo em que conhece mais pessoas e lugares da Cidade Morena.