Milhares de venezuelanos saem neste domingo para votar em um plebiscito contra o governo de Nicolás Maduro, com urnas abertas por volta das 7h no horário local (8h, no horário de Brasília). A expectativa de boa parte da população é que esta seja uma votação massiva, para fazer o presidente socialista convocar eleições presidenciais antes do fim de seu mandato, que será no início de 2019.
Antes da abertura das urnas, dezenas de pessoas faziam fila em setores de Caracas como Chacaito e Los Palos Grandes, onde as primeiras tendas e mesas foram instaladas com os seus respectivos delegados e voluntários, muitos vestidos de branco, de acordo com jornalistas da AFP. Os eleitores podem votar até as 16h na hora local (17h de Brasília).
Embora o governo tenha insistido que o referendo não é vinculativo e que é ilegal porque não tem o aval do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a Constituição dá poderes ao Parlamento de convocar tal votação, como fez há poucos dias.
— Se neste domingo 11 milhões de venezuelanos forem às ruas, na segunda-feira passaremos a uma etapa de mais pressão. Tudo depende da contundência deste 16 de julho. As próximas horas são críticas — disse o líder da oposição, Henrique Capriles, à Reuters.
Analistas estimam que a participação popular alcance ao menos 10 milhões. Nas últimas eleições parlamentares, em 2015, 7,7 milhões votaram pela oposição e permitiram a quebra da supremacia chavista no Congresso.
— Se uma grande maioria se expressa, na segunda-feira outra Venezuela amanhecerá. Vamos dar uma mensagem clara, e o governo terá de respeitar essa decisão — ressaltou Capriles, que já foi candidato presidencial duas vezes.
Além dos 1.766 locais de votação em todo o país, os venezuelanos que moram no exterior poderão votar em mais de 200 cidades, em lugares como restaurantes, shoppings, clínicas e escritórios de partidos políticos.
O plebiscito, organizado pelos partidos da oposição e da sociedade civil, pergunta se a população apóia o plano de Maduro plano de reescrever a Constituição, se apóia a intervenção das forças armadas para "restaurar a ordem constitucional" e se quer um governo de unidade nacional.
Em paralelo, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) fará, também neste domingo, uma simulação da votação da Constituinte. Seus 545 membros serão eleitos em 30 de julho. A oposição considera a consulta uma "provocação".
De acordo com uma pesquisa, 70% dos venezuelanos rejeita a Assembleia Constituinte.
Mas, numa atitude mais serena em comparação à adotada nos últimos dias, Maduro pediu no sábado que os venezuelanos participassem de ambos os eventos "pacificamente, com respeito às ideias dos outros, sem qualquer incidente".
— A paz é o que eu peço — disse o líder socialista, na véspera de ambas as votações.
Cinco ex-presidentes da região chegaram no sábado para participar, junto com especialistas eleitorais de vários países, como observadores do processo organizado pela oposição. São eles: o colombiano Andrés Pastrana, o boliviano Jorge Quiroga, o mexicano Vicente Fox e os costa-riquenhos Miguel Ángel Rodríguez e Laura Chinchilla.
A Venezuela enfrenta uma das piores crises de sua história recente. A acentuada recessão econômica, com uma inflação de três dígitos, e a escassez de mercadorias são agravadas por uma onda de protestos anti-governamentais que já se estende por três meses e já levou a quase 100 mortos.
A oposição argumenta que Maduro levou o país, rico em petróleo, para uma "ditadura" que aprisiona dissidentes e viola direitos humanos. Por sua vez, o sucessor de Hugo Chávez diz que seus adversários o perseguem para derrubá-lo.