Diante da desistência da presidente Dilma Rousseff de apresentar ao Congresso Nacional um projeto para recriar a CPMF, os ministros que integram a chamada "junta orçamentária do governo" buscam uma alternativa para fechar as contas do próximo ano sem perder credibilidade.
O Governo Federal tem que apresentar ao Legislativo o projeto do Orçamento de 2016 até esta segunda-feira (31).
De forma pragmática, sem os R$ 80 bilhões que poderiam ser arrecadados com o novo tributo, os ministros da área econômica avaliam as possibilidades de criar novos impostos, de promover corte orçamentário e até mesmo desenhar uma solução que envolva essas duas opções.
Outra alternativa ao Executivo seria reconhecer que, atualmente, não existem recursos suficientes para fechar as contas, explicitando o problema.
A repercussão negativa do possível retorno da CPMF em diversos setores da sociedade levou Dilma a desistir, pelo menos neste momento, da proposta da equipe econômica em uma reunião na tarde deste sábado (29) no Palácio da Alvorada. A avaliação interna é que o governo não teria capital político para aprovar o novo tributo no Congresso e, caso insistisse, sofreria uma derrota expressiva.
Conforme o Blog antecipou, a presidente da República tinha dúvidas em relação à proposta da equipe econômica e apresentava resistências à criação de um novo tributo na atual conjuntura política e econômica. Auxiliares políticos da presidente também consideravam que era um erro insistir nesta proposta.
Tanto que, assim que a desistência de recriar a CPMF foi ventilada em Brasília, ministros do núcleo político do Palácio do Planalto comemoraram a decisão da presidente. Havia uma preocupação clara de que se Dilma insistisse em tentar apresentar a proposta de um novo tributo, o PMDB poderia adotar posição contrária, se unindo à oposição para derrotar o governo no parlamento.
Nas palavras de um integrante da articulação política, isso teria consequências imprevisíveis para a governabilidade.
Na última quinta-feira (28), Dilma demonstrava contrariedade com a pressão da equipe econômica pela volta da CPMF. "Das coisas que eu não queria fazer no meu governo, a primeira da lista é a recriação da CPMF", desabafou Dilma na quinta.
Neste sábado (29), durante um seminário em São Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Lula –
padrinho político de Dilma – saiu em defesa do retorno do tributo que foi extinto pelos congressistas ao longo de seu segundo mandato, em 2007. Dirigindo-se ao atual ministro da Saúde, Arthur Chioro, Lula ressaltou que, na opinião dele, a CPMF nunca deveria ter acabado.
Por outro lado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), usou as redes sociais para alvejar a ideia gestada no Palácio do Planalto. Opositor do governo, o peemedebista disse no Twitter que era"totalmente contra" a volta da CPMF.
Até mesmo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) – que nas últimas semanas vinha ensaiando uma reaproximação com Dilma – ressaltou a jornalistas na quinta-feira que, para ele, o país não deve elevar a carga tributária em momento de crise econômica.