Uma mãe de 14 anos vive o drama de não poder ajudar a filha de 10 meses, portadora de uma insuficiência no fígado que só pode ser curada com a realização de um transplante que depende de um doador e de condições financeiras. Maiara Oliveira, moradora da zona rural de Solânea, cidade do Brejo paraibano, contou em entrevista à TV Cabo Branco que a doença da filha, descoberta quando ela tinha apenas dois meses, não foi curada porque o pai da criança se recusou a doar parte do fígado.
Por sua vez, o pai da criança, Pedro Bezerra, afirmou que pretende fazer a doação de parte do fígado à filha, mas precisa de liberação médica. Segundo relatou, há três meses ele foi submetido a uma cirurgia na mão, perdeu muito sangue e agora aguarda avaliação de um médico para poder passar pelo procedimento.
Além da falta de doador, a cirurgia que curaria a insuficiência da criança só pode ser feita em São Paulo. Maiara Oliveira e a filha chegaram a viajar até a capital paulista, mas a cirurgia não foi feita e ela precisou retornar com a criança para a Paraíba. “A mulher que era responsável por mim, me abandonou lá [em São Paulo]. A gente não sabia de nada, nunca tinha ido em São Paulo, não tenho família lá. Então a gente voltou. O hospital sempre liga perguntado por ela, mas não tem como voltar, porque a gente não tem condições”, relatou.
Na época, a viagem até São Paulo foi custeada pelo benefício do Tratamento Fora do Domicílio (TFD), disponibilizado pelo SUS para pacientes que precisam de um tratamento específico que não é possível ser realizado na cidade em que moram. A criança está internada no Hospital Infantil Arlinda Marques para tratar uma pneumonia e, de acordo com a unidade hospitalar, só poderá ser transferida para São Paulo novamente após ser curada da doença e a família acertar a documentação.
“Na verdade ela vai ter que aguardar lá, porque transplante não é ‘chegou e fez’. Tem que ter paciência, às vezes você vai para uma fila, sempre acompanhada pelo TFD através das diárias e dos relatórios feitos por aqui. É preciso ir para lá e aguardar”, explicou o coordenador do TFD na Paraíba, Wellington Fernandes.
Com relação ao posicionamento do pai da criança, único na família compatível para o transplante, a coordenadora da central estadual de regulação em alta complexidade, Graça Moura, explicou que a mãe pode procurar o Ministério Público para que uma ação seja iniciada contra o pai e ele seja eventualmente obrigado a realizar o procedimento para salvar a filha.
“O TFD dá o apoio logístico, o deslocamento e a ajuda de custo. A orientação é que o Conselho Tutelar entre no caso para que o pai dessa criança cumpra seu papel de doador, ou viabilizar algum familiar compatível”, avaliou Graça Moura. Enquanto aguarda uma resolução do impasse, Maiara Oliveira lamenta a situação em que a filha de 10 meses se encontra. “Eu fico aperreada, porque se ela fosse compatível comigo, tinha eu e meu irmão, mas ela não é. Ela é compatível só com o pai”, desabafou.