Cidades

SISTEMA CARCERÁRIO

Especialistas apontam 15 prioridades
para combater crise nos presídios

Especialistas apontam 15 prioridades
para combater crise nos presídios

G1

22/01/2017 - 11h05
Continue lendo...

Superlotação, condições precárias de higiene, presos sem julgamento, briga entre facções. Esse é o retrato de presídios brasileiros que autoridades, há anos, vêm tentando mudar com medidas de curto e longo prazo. Algumas deram certo, outras não.

A reportagem listou aquelas que, em algum momento, foram aplicadas pela administração pública, pelo Judiciário e entidades não governamentais para resolver o problema dos presídios e ouviu especialistas sobre quais seriam as mais urgentes para coibir cenas como as de rebeliões que deixaram mais de cem mortos em janeiro deste ano.

Veja a seguir as medidas apontadas como as mais urgentes para amenizar o caos carcerário, sem ordem de importância. Muitas delas já são lei, mas não funcionam na prática:

*lei de drogas
*audiências de custódia
*penas alternativas
*mutirão carcerário para reduzir superlotação
*aplicar penas alternativas aos pequenos traficantes
*construção de presídios nos estados
*melhorar infraestrutura e higiene de presídios
*sistema integrado de informações sobre presos
*transferir chefes de facções
*compra de equipamentos de revista
*alas de amamentação para mães presas
*bloquear sinal de celular nos presídios
*separar presos do semiaberto do fechado
*colocar presos no RDD
*ampliar Defensoria Pública

O que o governo federal anunciou até agora:

uso das Forças Armadas em presídios por 12 meses
construção de 30 presídios pré-moldados em um ano
fortalecimento do combate ao tráfico de armas e drogas nas fronteiras
separação de presos condenados por crimes graves e do organizado em diferentes alas
criação de forças-tarefa no Ministério Público para investigações de homicídios
mais benefícios para presos por crimes menos graves
força nacional de agentes penitenciários

Entenda a seguir as medidas citadas e a opinião dos especialistas:

1) Lei de Drogas

O que diz: Aprovada em 2006 para tentar frear a prisão de usuários de drogas, a Lei 11.343 teve um efeito perverso e acabou triplicando o encarceramento por tráfico no país, segundo levantamento do G1. O grande número de jovens encarcerados por tráfico, muitos deles primários, é apontado por especialistas como um dos motivos para o aumento das facções criminosas, superlotação do sistema e reincidência.

Opinião dos especialistas:

"A descriminalização do pequeno tráfico reduziria o número de presas e reduziria a violência nas cidades. Porque muitos crimes estão ligados às drogas", afirma o padre Valdir João Silveira, coordenador nacional da Pastoral Carcerária. "Estamos lotando presídios com presos por pequeno tráfico, com pessoas que poderiam responder ao processo em liberdade. É preciso pensar na descriminalização [das drogas]", complementa Frederico de Almeida, professor de ciência política na Unicamp. Essa também é a opinião de Pedro Estevam Serrano, professor de Direito Constitucional: " o fim da guerra contra o tráfico, descriminalizando o consumo e o comércio de substância entorpecente".

2) Audiências de custódia

O que diz: Iniciativa do Judiciário, elas tentam acabar com o número de presos sem julgamento. Todo preso em flagrante é ouvido em 24 horas pelo juiz. Antes, ele ficava preso à espera da audiência, muitas vezes por meses.

Opinião dos especialistas:

"Precisamos fazer um esforço para dar vazão aos processos judiciais. Uma medida que tem ajudado é a de fazer audiências de custódia, que ajudam a reduzir o número de prisões", diz Frederico de Almeida, professor de ciência política na Unicamp.

3) Penas alternativas

O que diz: Em 2011, entrou em vigor a Lei 12.403, cujo objetivo era fazer com que juízes aplicassem penas alternativas, e não mais a prisão preventiva, para crimes mais leves. Conforme revelou reportagem do G1, juízes privilegiaram a fiança em detrimento de outras medidas. Diante da baixa renda dos presos, o resultado na prática foram mais prisões.

Opinião dos especialistas:

"A sociedade precisa ter um pacto antibarbárie, que inclua o não sancionamento com pena de prisão de crimes não violentos, tirando da cadeia aquelas pessoas que não cometeram crimes violentos e acabar com a banalização da prisão preventiva", afirma Pedro Serrano.

4) Mutirão carcerário para reduzir superlotação

O que diz: O Conselho Nacional de Justiça tem promovido mutirões para rever a situação de presos que poderiam estar em liberdade. A iniciativa já se espalhou por todos os estados e já encontrou casos gritantes, como o de um homem que deveria ter sido solto em 1989 no Ceará.

Opinião de especialistas:

"Há milhares de presos que não deveriam estar encarcerados, que deveriam ter progredido de regime ou que fariam jus, ao menos, a medidas constritivas de menor impacto, como monitoração eletrônica ou prisão domiciliar, mas, ao arrepio da lei, encontram-se sob a tutela impiedosa das facções que dominam esse ambiente", Rodrigo Felberg, advogado criminalista, professor do Mackenzie e pós-graduado na Universidade de Coimbra.

5) Aplicar penas alternativas aos pequenos traficantes

O que diz: O Supremo entendeu que o tráfico não é crime hediondo, o que, na prática, deveria significar redução de pena e liberdade provisória. Mas essa decisão ainda não é adotada na prática por todos os tribunais e juízes.

Opinião dos especialistas:

"A descriminalização do pequeno tráfico reduziria o número de presas e reduziria a violência nas cidades. Porque muitos crimes estão ligados às drogas", afirma o padre Valdir. "A sociedade precisa defender o fim da guerra contra o tráfico, descriminalizando o consumo e o comércio de substância entorpecente, e articular o sistema de justiça como política pública para priorizar a investigação de crimes contra a vida e integridade física, em vez de priorizar crimes contra o patrimônio e microtráfico", afirma Serrano. 

6) Construção de presídios nos estados

O que diz: Um dos estados que investe na construção de mais vagas é São Paulo, por meio do Plano de Expansão de Unidades Prisionais, que começou em 1995. Atualmente são 166 unidades, mas a superlotação ainda é de 56,6%.

Opinião dos especialistas:

"A construção de presídios é, obviamente, outra medida imprescindível, considerando o altíssimo déficit de vagas no sistema carcerário. A superlotação contribuiu à promiscuidade criminosa, impede a separação dos presos conforme sua periculosidade, transformando a reintegração social em mero ideal utópico. Além disso, a superlotação inviabiliza o controle estatal das prisões, de modo que os próprios detentos passam a comandar com extrema violência e impunemente o ambiente prisional. Ante o descaso da maioria dos governadores, teríamos de construir ao menos 1.500 presídios para acomodar adequadamente a massa carcerária a ponto de torná-la administrável e sujeita aos preceitos e medidas ressocializadoras da Lei de Execução Penal (média de 500 presos por presídio), envolvendo, em especial, aperfeiçoamento estudantil e trabalho técnico promissor", afirma o professor Rodrigo Felberg.

7) Melhorar infraestrutura e higiene de presídios

O que diz: Inspeções do CNJ e OAB nos presídios têm apontado um quadro de calamidade em quase 30% das unidades. Em Roraima, palco de um massacre em janeiro, foram encontrados esgoto a céu aberto, presos dormindo no chão por falta de colchões.

Opinião dos especialistas:

"Se continuarmos apostando na questão de construir presídio, não vamos solucionar o problema. Precisamos de esforço constitucional para resolver, em primeiro lugar, as questões de problemas físicos e humanitários nos presídios [que já existem]", afirma Frederido de Almeida.

8) Sistema integrado de informações sobre presos

O que diz: Essa medida é defendida pelo CNJ, mas os dados do sistema carcerário brasileiro ainda são escassos e defasados.

Opinião dos especialistas:

"Hoje, já existe um sistema de inteligência penitenciária em cada estado, a questão é ‘linkar’ todo mundo para começar a pensar em conjunto. Hoje, o governo não sabe onde vai ter uma crise ou não”, afirma Guaracy Mingardi, cientista político e especialista em segurança pública.

9) Transferir chefes de facções

O que diz: Essa medida foi adotada por Rio Grande do Norte e Roraima contra a crise que culminou em rebeliões e mortes este ano.

Opinião dos especialistas:

"Não vamos conseguir solucionar o problema com medidas paliativas, mas dá para contornar a crise. Precisa cuidar para que os grupos de facções diferentes fiquem separados pelo menos momentaneamente", afirma Mingardi.

10) Compra de equipamentos de revista

O que diz: Scanners prisionais são apontados como meio de impedir a entrada de drogas e celulares nos presídios, mas a maioria das unidades do país não possui os equipamentos. No DF, dois estavam quebrados em 2016.

Opinião dos especialistas:

"Somente a revista séria a todos os ingressantes nos presídios, inclusive de agentes públicos, a utilização de bloqueadores de sinais, a transferência dos líderes para o RDD e presídios federais, a instalação de monitoração eletrônica em todos os ambientes e incursões periódicas nos recintos prisionais poderá minimizar esta situação", afirma Rodrigo Felberg.

11) Alas de amamentação para mães presas

O que diz: Na Penitenciária Feminina II, em Tremembé (SP), no interior de São Paulo, as presas têm uma ala só para ficar com seus bebês.

Opinião dos especialistas:

"A questão das mulheres presas está aumentando muito no Brasil. Mães chorando nas celas porque estão longe de suas crianças. Elas precisam ter esse contato até como forma de ressocialização", afirma o padre Valdir.

12) Bloquear sinal de celular nos presídios

O que diz: No ano passado, o STF derrubou leis que obrigavam operadores a bloquear o sinal de celulares em presídios, entendendo que a competência é federal. Os estados podem instalar bloqueadores, mas não existe uma diretriz nacional.

Opinião dos especialistas:

"Dentre tais medidas, a primeira consiste no empenho à cessação de comunicação dos líderes das facções com os demais presos e com os criminosos-operários que atuam fora das prisões. É impensável para os padrões de qualquer país sério a facilidade com que tais detentos usufruem de celulares dentro das prisões", afirma Rodrigo Felberg, que também defende a "instalação de monitoração eletrônica em todos os ambientes".

13) Separar presos do semiaberto do fechado

O que diz: O Supremo aprovou uma súmula vinculante para impedir o cumprimento de pena em regime mais severo nos casos de falta de vaga. Essa separação também é prevista na Lei de Execuções Penais. Ainda assim, vários casos foram constatados nos presídios alvo de massacres este ano.

Opinião dos especialistas:

"Há milhares de presos que não deveriam estar encarcerados, que deveriam ter progredido de regime ou que fariam jus, ao menos, a medidas constritivas de menor impacto, como monitoração eletrônica ou prisão domiciliar, mas, ao arrepio da lei, encontram-se sob a tutela impiedosa das facções que dominam esse ambiente", afirma Rodrigo Felberg. "Há ainda, infelizmente, com a conivência parcial do Poder Judiciário, presos em regime fechado que deveriam estar em regime semiaberto, o que me parece um atentado contra os direitos e garantias fundamentais, além de agravar o problema que já é enorme."


14) Colocar presos no RDD

O que diz: No ano passado, os principais chefes do PCC foram colocados no regime diferenciado. Os massacres em presídios do Norte do país teriam sido motivados pela guerra entre facções.

Opinião dos especialistas:
"Na medida em que os governantes relegam o controle das prisões aos próprios presos estes dificilmente conseguiram fugir do ciclo infracional vicioso. É preciso quebrar essa perversa dinâmica recorrente e somente com a intervenção estatal eficiente e proativa isso poderá ocorrer", afirma Rodrigo Felberg.

15) Ampliar Defensoria Pública

O que diz: O Brasil possui 37% de presos provisórios (sem julgamento). Um dos motivos é o baixo número de defensores públicos, que representam no processo pessoas sem condições financeiras. A Defensoria se expandiu no país, mas, até 2014, apenas quatro estados tinham defensoria em todas as comarcas.

Opinião dos especialistas:

"Outro ponto gravíssimo é que há poucos defensores públicos. Um defensor para 17 comarcas em alguns locais do Norte do país. Presos amontoados por muito tempo pressionando a primeira audiência no fórum", afirma o padre Valdir João Silveira. "É preciso contratar mais defensores para que os presos possam ter acesso à defesa."

Veja também as outras medidas que já aplicadas ou anunciadas por governos para amenizar os problemas do sistema carcerário:

- construir presídios federais – atualmente há 4 presídios federais no país, próximos de sua capacidade máxima, feitos para presos perigosos. Há uma quinta unidade em construção em Brasília e outra no RS foi anunciada. A intenção, segundo Temer, é cumprir a Constituição, separando presos por grau de periculosidade e gravidade do crime cometido.

- presídios de menor capacidade – foi a escolha do Espírito Santo para reformular seu sistema prisional. O estado ainda tem superlotação, mas conseguiu zerar mortes em prisões

- uso das forças Armadas em presídios - foi a medida anunciada pelo governo Michel Temer para conter rebeliões em presídios em janeiro deste ano

- contratação de agentes penitenciários – demanda de vários estados, a falta de agentes tem sido apontada como problema de segurança nos presídios. Ano passado, o Ceará aprovou um projeto para usar agentes de outros estados em suas prisões, após a morte de 14 presos em rebeliões.

- separar presos de menor periculosidade – Segundo dados do CNJ, essa separação não é realizada em praticamente todos os presídios do país, embora esteja prevista em lei.

- investir na profissionalização do preso – A iniciativa está presente em vários estados. No Amapá, internos passaram a ter acesso a cursos de profissionalização no ano passado. No Rio, as presas também fazem cursos para se preparar para a vida fora da prisão.

- privatização de presídios – O primeiro presídio privado do Brasil foi construído em Ribeirão das Neves, MG. Em quatro anos, houve apenas uma fuga.

- cogestão de presídios – O modelo é adotado no Compaj, onde 56 presos foram mortos em janeiro no Amazonas. Pela lei, a empresa fica responsável por serviços como limpeza, recepção, manutenção dos prédios, entre outros, sob a fiscalização do estado.

- terceirizar serviços em presídios – Em Sergipe, causou polêmica a contratação de terceirizados para fazer a revista no Complexo Penitenciário Doutor Manoel Carvalho Neto (Copemcan).

- proporcionar estudo ao preso - Em 2015, Dilma Rousseff sancionou uma mudança na Lei de Execução Penal que instituiu os estudos do ensino médio nos presídios, mas que não é obrigatória nas penitenciárias como acontece com as aulas do ensino fundamental.

- aumentar o contato do detento com família e comunidade - esse é um dos lemas de um modelo chamado Apac (Associação de Proteção e Amparo aos Condenados), aplicado em Minas e Espírito Santo, que não usa agentes penitenciários armados.

- separar membros de facções criminosas - uma das iniciativas apontadas para conter as rebeliões, essa medida foi encampada pelo Acre após uma onda de execuções e defendida esse ano pelo ex-secretário de segurança do Rio José Mariano Beltrame para que os presos não se matem. Já no Amazonas a divisão das celas por facção foi justamente o estopim de um massacre que vitimou 56 presos.

- usar a religião para ressocializar presos – Em Rondônia, a ONG Acuda usa o Daime, um chá alucinógeno, para recuperar acusados de homicídio, traficantes, estupradores e pedófilos, conforme reportagem do Fantástico.

- celas metálicas (contêiner) para desafogar unidades – O governo do RS chegou a cogitar o uso de contêineres e até de um navio para abrigar presos para resolver a superlotação no estado. No ES, essa foi uma das causas de uma grave crise.

- soltar presos por superlotação – a medida foi adotada por juízes em vários estados nos últimos anos, como Goiás, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e outros. Mais recentemente, durante a crise carcerária de Roraima, a Justiça concedeu liberdade provisória a 161 presos do semiaberto ameaçados de morte.

- realizar inspeções periódicas em presídios – as inspeções têm sido realizadas por juízes de todo o país, inclusive pela ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal.

- investir em ouvidorias para presos – o governo disponibiliza a Ouvidoria do Sistema Penitenciário Nacional, ligada ao Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça, mas nem todos os estados possuem ouvidorias próprias.

- colocar presos em delegacias – os estados têm reduzido ou zerado o número de presos custodiados em delegacias, mas vários ainda possuem vagas nos distritos policiais por falta de vagas, o que é proibido por lei.

- investimento na inteligência das polícias – A medida foi anunciada pelo presidente Michel Temer, que reuniu órgãos de inteligência federal e ministros para unificar o combate a facções.

- construção de presídios pré-moldados – Em entrevista à Reuters, Michel Temer afirmou que vai entregar em um ano 30 novas prisões pré-moldadas, um modelo adotado pelo Espírito Santo para tentar solucionar a crise do sistema carcerário. A vantagem, segundo o governo, é o menor tempo para ficar pronto.

baixa adesão

Fundo Pantanal indeniza desde banqueiro a gigante do Agro

Mas, o Programa que disponibilizou R$ 40 milhões está repassando aos proprietários pantaneiros menos de 10% do previsto para 2025

13/12/2025 12h30

O tuiuiú é considerada a ave-símbolo do Pantanal, mas também pode ser encontrada bem longe deste bioma

O tuiuiú é considerada a ave-símbolo do Pantanal, mas também pode ser encontrada bem longe deste bioma Bruno Rezende/Secom

Continue Lendo...

Na lista dos 45 proprietários de terras do Pantanal que receberão recursos do Fundo Clima Pantanal, um programa que indeniza fazendeiros que preservam áreas mais amplas do que aquilo que determina a legislação, aparecem desde fazendeiros tradicionais a banqueiros e gigantes do agronegócio.

Mas, conforme publicação do diário oficial do Governo do Estado desta sexta-feira (12) a adesão ficou abaixo do esperado e menos de 10% das verbas disponíveis serão distribuídas no primeiro ano do programa, criado principalmente para combater o desmatamento.

Entre os contemplados, com R$ 100 mil, está Tereza Bracher, esposa do ex-presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher. A família vair receber a indenização por estar preservando em uma de suas fazendas pantaneiras quase seis mil hectares acima do estipulado pela legislação. 

Com patrimônio estimado na casa dos R$ 15 bilhões, Cândido Bracher foi CEO do Itaú Unibanco entre abril de 2017 e janeiro de 2021. Atualmente,  hoje é integrante do Conselho de Administração da instituição financeira, que fechou 2024 com lucro de R$ 40 bilhões. 

E a banqueira ainda buscou indenização em uma segunda fazenda no Pantanal,  mas foi desclassificada por ter sido enquadrada no item 8.6 das normas que regulamentam a distribuição dos R$ 40 milhões do Fundo.

Este item diz que não pode ser contemplado que  estiver com irregularidades no Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou por estar com passivos ambientais não declarados ou que não estejam cumprindo termos de compromisso de recuperação de áreas degradadas.

Em maio deste ano o Ministério Público abriu investigação para apurar suposta omissão do banqueiro em um megaincêndio que destruiu mais de 52 mil hectares em julho de 2024 no Pantanal da Nhecolândia. O fogo teria começado na Fazenda Tupanceretã, de 25 mil hectares, pertecence à família. 

Tereza Bracher também aparece como contemplada indireta em uma outra propriedade. Ela é uma das integrantes da Associação Onçafari, entidade que vai receber pouco mais de R$ 45 mil de indenização pela preservação de 824 hectares de vegetação nativa.

Esta associação, que adquiriu milhares de hectares no Pantanal para criar uma espécie de corredor ecológico que possibilite procriação de onças-pintadas, conseguiu cerca de R$ 180 milhões com filantropos para a criação de reservas privadas no Pantanal. Teresa Bracher é uma destas doadoras. 

Mas, os banqueiros não são os únicos bilionários que aparecem na lista. Outra contemplada é a SLC Agronegócios, uma fazenda dedicada à criação de bovinos no município de Corumbá.  Os bilionários donos desta fazenda receberão R$ 100 mil do Fundo Pantanal por preservarem pouco mais de 3,7 mil hectares. 

A fazenda pertence ao grupo que se apresenta como um dos maiores produtores de commodities agrícolas do país. Possui cerca de 733 mil hectares de área plantada em sete estados. Além de Corumbá, o grupo também produz em fazendas em Cassilância, Chapadão do Sul e Sonora. 

A SLC produz algodão, milho e soja e se dedica à criação de gado, além de ser uma das grandes produtoras de sementes destas cultura.Ela foi uma das primeiras empresas do agronegócio a ter ações negociadas em Bolsa de Valores de São Paulo, a BR.

A famosa Fazenda Bodoquena, de cerca de 77 mil hectares e conhecida por concentrar até 40 mil bonivos, também aparece na relação daqueles que receberão indenização. Neste caso, serão apenas R$ 39 mil, uma vez que atestou estar fazendo preservação extra de 705 hectares de vegetação. 

A fazenda pertence ao Grupo Votorantim, que há mais de sete décadas também atua na produção de cimento em Corumbá, no coração do Pantanal. O grupo é controlado pelos familiareas de Antônio Ermírio de Moraes, um dos rostos mais conhecidos do bilionário clã. Ele morreu em 2014. A família é considerada a terceira mais rica do país, com patrimônio estimado em 15,4 bilhões de dólares, ficando atrás somente das famílias Marinho e Safra.

Mas, nesta lista dos contemplados também aparecem fazendeiros "comuns",  para os quais a indenização de até R$ 100 mil fará alguma diferença. Esté é o caso de Timotheo Reis Proença, que já presidiu o sindicato rural de Aquidauana. Ele cadastrou 1,28 mil hectares como preservação extra e por conta disso receberá R$ 71 mil. 

BAIXA ADESÃO

Ao todo, segundo o Governo do Estado, estão sendo  indenizados 126 mil hectares, o que está garantindo repasse da ordem de R$ 3,25 milhões aos proprietários. 

O valor é praticamente o mesmo ao que está sendo repassado a três ONGs que dizem atuar no combate a incêndios e no tratamento de animais silvestres atingidos pelas queimadas no Pantanal. 

Dos R$ 40 milhões, R$ 1,438 milhão foi destinado ao Instituto Homem Pantaneiro (IHP), R$ 996 mil para o instituto SOS Pantanal e R$ 497,5 mil para o IPCTB - Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil. 

Somados, os repasses às ONGs chegam R$ 2,931 milhões, o que equivale a 7,3% dos R$ 40 milhões anunciados pelo Governo do Estado ao Fundo Pantanal para o primeiro ano de vigência do programa. 

O valor repassado aos proprietários rurais ficou longe daquilo que estava previsto por conta da baixa adesão. Na primeira chamada foram recebidas apenas 71 inscrições de imóveis rurais localizados no Bioma Pantanal. E, após análise dos documentos,  45 propriedades conseguiram cumprir as exigências. 

Mesmo assim, o secretário Jaime Verruck, da Semadesc, comemora os resultados. “O PSA Pantanal demonstra que é possível alinhar desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Estamos criando um modelo em que o produtor rural passa a ser reconhecido como parceiro estratégico na proteção do bioma, recebendo por um serviço ambiental que beneficia toda a sociedade”, afirmou. Segundo ele, o programa também fortalece a imagem de Mato Grosso do Sul como referência nacional em sustentabilidade e políticas climáticas inovadoras.

Agora, os proprietários classificados serão convocados pela Fundação Educacional para o Desenvolvimento Rural (Funar), agente executor do PSA Conservação, para assinatura do Termo de Adesão. A partir desse instrumento, os provedores de serviços ambientais passam a integrar formalmente o programa e a receber os valores correspondentes às áreas preservadas. 

De acordo com o secretário-adjunto da Semadesc, Artur Falcette, a robustez técnica do edital foi um dos diferenciais do programa. “Todo o processo foi construído com base em critérios objetivos, análises técnicas aprofundadas e uso de ferramentas geoespaciais. Isso garante credibilidade ao PSA e cria um ambiente favorável para sua continuidade e ampliação”, destacou. Ele ressalta que a experiência da primeira chamada servirá como base para o aperfeiçoamento das próximas etapas.

Segunda chamada 

Com a conclusão da primeira etapa, a Semadesc confirmou o cronograma da segunda chamada do PSA Conservação, prevista para 2026. A publicação do edital e a abertura das inscrições ocorrerão em 23 de fevereiro, com encerramento em 6 de abril.

As inscrições deferidas serão divulgadas em 16 de abril, com prazo para recursos até 20 de abril. A avaliação das propriedades ocorrerá até 1º de junho, com publicação do resultado final até 15 de junho. A assinatura dos Termos de Adesão está prevista a partir de 16 de junho de 2026.

Nesta segunda chamada, poderão participar proprietários que não conseguiram se inscrever na primeira etapa. As regras permanecem as mesmas, incluindo a possibilidade de cancelamento de autorizações de supressão de vegetação nativa vigentes na data de abertura do edital, quando houver, sendo que o pagamento será referente ao exercício de 2026. 

“O PSA é uma política de Estado, construída para ter continuidade e escala. A segunda chamada amplia o alcance do programa e reforça nosso compromisso com a conservação do Pantanal”, concluiu Jaime Verruck.

 

Cidades

Consórcio paga parte dos atrasados, mas motoristas confirmam greve a partir de segunda

Sem acordo com o Consórcio Guaicurus, a greve está prevista para segunda-feira (15), segundo informou o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande

13/12/2025 11h23

Crédito: Gerson Oliveira / Correio do Estado

Continue Lendo...

Com o Consórcio Guaicurus tendo atendido “em partes” à reivindicação definida em assembleia, a greve dos motoristas de ônibus deve iniciar nesta segunda-feira (15), em Campo Grande.

Em conversa com o Correio do Estado, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano da Capital (STTCU-CG), Demétrios Feiras, informou que os trabalhadores receberam, na sexta-feira (15), somente 50% do salário referente ao mês de novembro.

“O Consórcio Guaicurus, no final da tarde, depositou 50% do valor dos salários, referente ao mês de novembro, que era para ser pago no quinto dia útil do mês de dezembro. Foi a única coisa que o Consórcio pagou”, informou Demétrios.

Durante assembleia, a categoria reivindicou o pagamento do salário integral, do adiantamento, da segunda parcela do décimo terceiro e do vale (adiantamento salarial). No entanto, houve apenas o depósito de 50%, e a paralisação segue confirmada.

Segundo o presidente do STTCU-CG, não está prevista, para este fim de semana, qualquer tentativa de negociação com a empresa responsável pelo transporte coletivo na Cidade Morena.

Com isso, Demétrios reforçou que os ônibus só retornarão às ruas quando o Consórcio efetuar o pagamento do que ficou definido pela classe.

“E a gente só volta a trabalhar com o pagamento desses três vencimentos. Caso contrário, continua parado na terça, na quarta, até que o Consórcio efetue esses pagamentos”, pontuou Demétrios.

A justificativa para não realizar o pagamento, conforme explicou Demétrios, é a falta de dinheiro em caixa. Como adiantou o Correio do Estado, o Consórcio Guaicurus alega um “rombo” em dívidas de R$ 15,2 milhões, sendo que desse valor R$ 8,2 milhões são referentes aos salários dos funcionários.

Por conta disso, a concessionária pediu que o valor do subsídio pago pelo poder público seja ainda maior.

Entenda

No dia 5, o Consórcio Guaicurus, responsável pela administração do transporte coletivo de Campo Grande, anunciou que a situação financeira estaria insustentável para a continuidade da operação, motivada por supostos atrasos nos repasses por parte do poder público.

Além das dificuldades relacionadas a questões operacionais, como combustíveis, manutenção da frota e encargos, o consórcio também enfrenta negociações com a classe de funcionários, principalmente os motoristas.

Motoristas do Consórcio Guaicurus realizaram assembleia geral, na madrugada desta quinta-feira (11) e optaram pela paralisação. Eles reivindicam por:

  • Pagamento do 5º dia útil, que deveria ter sido depositado em 5 de dezembro – efetuaram o depósito de 50%
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário – vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) – vai vencer em 20 de dezembro

** Colaborou Felipe Machado e Naiara Camargo

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).