A sexta edição do festival Back2Black, a segunda consecutiva montada na área externa da Cidade da Música, na Barra (Rio), teve duas noites de pegadas bem diferentes.
Na sexta (20), um evento praticamente dedicado a reggae e maconha, que marcou sua presença na noite de vento suave e constante no vão sob o grande prédio (palestras e filmes eram exibidos no primeiro andar, mas os dois palcos do B2B foram armados no térreo).
Linton Kwesi Johnson, jamaicano sexagenário que é o grande poeta do dub, abriu a noite ainda com pouco público para seus versos poderosos, como em "Sonny's Lettah", uma carta que um filho preso envia à mãe. Um show que impressionou mais por sua presença.
Neste mesmo palco, o principal, Damian "Jr. Gong" Marley fecharia a noite diante de uma plateia bem jovem, que aguentou até tarde para conferir o filho de Bob Marley. Menos carismático que o irmão Ziggy, ele mostrou um set feito para colocar a moçada para dançar.
Mas, entre esses dois momentos de Jamaica, houve uma celebração musical que só o público carioca consegue exibir quando quem está tocando é o Planet Hemp.
O grupo de Marcelo D2 e BNegão, diante de 6.000 pessoas, soltaram logo de cara "Legalize Já", seu sucesso e declaração de intenções de 1995, seguido de outras músicas de seu disco de estreia, "Usuário".
O público pulou sem parar, a "cortina de fumaça" foi visível e algumas "rodas" chegaram a ser iniciadas, mas a razoável de público "família" do festival parece ter inibido os empurrões tradicionais dos fãs do Planet Hemp.
Depois do êxtase provocado pelos heróis locais, atrações como a curitibana Karol Cinká e o show de danças entre os brasileiros do Dream Team do Passinho e os angolanos bailarinos de kuduro viraram um "descansa" para quem encarou a madrugada.
Se o primeiro dia veio forte com essa "conexão hemp", o segundo foi o dia da variedade. E do belga Stromae, o mais aguardada entre a faixa jovem das 4.000 pessoas que pagaram ingresso.
Duas cantoras fizeram shows empolgantes: a jovem Aline Frazão, de Angola, que dividiu o palco menor com Toty Sa'med (Angola) e Natasha Llerena (Brasil), e a veterana Angelique Kidjo, de Benim, já conhecida dos brasileiros. Entre outras visitas, esteve no último Rock in Rio.
A abertura do palco principal, com Lenine cantando com a Orkestra Rumpilezz, de Letieres Leite, teve momentos de acertos e alguns deslizes. Separados, sempre dão grandes shows. Mas a voz do pernambucano às vezes foi soterrado pela percussão e metais que compõem a orquestra baiana. No final, o público aprovou a mistura com entusiasmo.
O show criado para homenagear compositores negros cariocas teve desempenhos irregulares. Quem cuidou de cantar os covers e se deu bem: Alcione, Xande de Pilares, Mart'nália e a portuguesa Raquel Tavares, que troca o fado pelo samba com grande desenvoltura.
Fernanda Abreu fez mais do mesmo, com "Aquarela Brasileira", e Gabriel Moura se mostrou um equívoco de escalação, estragando alguns clássicos da música popular. Na soma geral, tudo ficou meio com cara de show para turista. Apesar dos talentos reunidos, foi um tanto frio para o público carioca.
Mas a noite esquentou com Stromae mesclando rap em francês com batidas eletrônicas e uma bela performance diante de um telão de grafismos que prendiam a atenção. Dá para entender porque ele tomou o primeiro lugar de várias paradas da Europa. Aos 30 anos, Paul van Haver (seu nome verdadeiro) é um artista que merece ser acompanhado.