Ficou para trás o tempo em que pessoas com cabelos coloridos paravam a rua e eram cercadas por olhares de espanto ou reprovação. Dar tons vibrantes aos fios é mais do que nunca uma tendência que conquista pessoas de todas as idades, gêneros e estilos.
Para aderir ao visual mais ousado não é preciso sair à caça de produtos ou profissionais especializados no serviço – está mais fácil encontrá-los. As paletas de cores das tintas estão mais amplas, e os preços delas e dos procedimentos estão mais acessíveis. Fora das prateleiras e dos salões, outro ponto favorável é que quem não gosta desses tons parece menos disposto a fazer comentários negativos sobre as cabeças coloridas. A fotógrafa Leiliane Assis, 26 anos, colore desde os 18 e notou tudo isso.
Desde setembro do ano passado, ela exibe os fios cor-de-rosa que pintou em casa. Depois de provar diversos tons fantasia – azul, verde, roxo e por aí vai –, voltou à cor natural por um tempo e, agora, resolveu se transformar novamente. “Eu percebo que atualmente se veem mais pessoas nas ruas e dentro dos salões com os cabelos coloridos. Acho que quem não pinta está até respeitando mais a escolha do outro e deixando de falar coisas do tipo ‘seu cabelo vai cair’ ou ‘quer chamar atenção’”.
Para Leiliane, a decisão de ter o cabelo colorido tem a ver com gosto pessoal e com o direito de fugir dos padrões. “Comecei a pintar por influência de um personagem, quando era mais nova. Agora é porque eu acho bonito e gosto de me ver assim. Acredito que hoje eu expresso, com meu cabelo, que tanto faz manter a cor natural ou variar. O que importa é ter liberdade de escolha”, defende a fotógrafa.
TOLERÂNCIA
O professor de Artes Visuais Leonn Gondin, 23 anos, é uma atração durante todo o ano letivo para os alunos da pré-escola. “Do começo ao fim do ano, eles me falam: professor, você não tem o cabelo colorido de verdade, né? Você usa peruca”, conta. Os mais incrédulos até perguntam se podem tocar e puxar para ter certeza.
Mas nem sempre as experiências com o visual são boas. “No ano passado, o pai de um aluno foi perguntar para a direção como é que eles permitiam que um professor com cabelo rosa desse aula para as crianças”, conta Leonn. A equipe da escola o defendeu e explicou ao pai que a cor do cabelo não tinha relação com competência do profissional e em nada atrapalhava as aulas. “Disseram para o pai que, se o filho dele tivesse o cabelo colorido também, frequentaria as aulas normalmente e seria tratado do mesmo jeito que os demais alunos.”
Já o estudante de Ciências Sociais Danilo de Jesus, 23 anos, não teve o azar de ouvir comentários desagradáveis sobre o cabelo rosa, nem na universidade nem entre familiares e amigos. Ele o pintou pela primeira vez há poucos meses e, até então, só tem recebido elogios.
Foi também por gosto pessoal que incluiu a cor fantasia no visual. Apesar de saber que algumas empresas impõem restrições quanto a esse detalhe, acredita que na área profissional que quer atuar não terá problemas. Ele pretende continuar pintando e testando novas cores.
NOVIDADES
O professor de Estética Marcos Balieiro confirma que os fios multicores estão em alta. Prova disso, segundo ele, é que a pintura com cores fantasia está recebendo mais procura nos centros de beleza, por pessoas com perfil cada vez mais diversos. “Sempre se tem muitos jovens atrás do que é tendência, mas nessa temporada estamos vendo pessoas de todas as idades procurando pelas cores vibrantes. Um desses perfis são, inclusive, o de senhoras que preferem um lilás ou um rosa, por exemplo, em vez do grisalho.”
O cabeleireiro Paulo Júnior, experiente na pintura de cores fantasia, explica que existem duas técnicas diferentes para proceder à coloração.
“A primeira é a Color Craving, em que o cabelo passa por um processo de descoloração antes de a tinta ser aplicada. A segunda técnica é a Lift&Color, que clareia e cria o tom automaticamente sem precisar descolorir.” Após um desses processos é que se aplica a tinta. As cores mais pedidas no salão em que ele trabalha são o Pink Flush, o Sunset Copper, o Powder Blue e o Velvet Violet.
Para atender a essa nova demanda, os profissionais estão explorando também opções criativas de pintura. O arco-íris, por exemplo, é um dos que têm feito sucesso. Paulo Júnior cita também o degradê de cores, as mechas pontuais e a iluminação com cores fantasia. Ele aposta que o colorido veio para ficar. “O conceito está se firmando. Promete quebrar o medo da mudança e deixar o dia a dia e a imagem muito mais alegre”, comenta. Para ajudar o cabeleireiro a encontrar o melhor estilo, ele recomenda que o cliente seja claro quanto à profissão e ao estilo de vida.
De vez em quando, a esteticista e cabeleireira Luciane Mansini também atende pessoas que desejam colorir as madeixas. Não é a especialidade dela, mas ela resolveu fazer um curso no mês passado para conhecer essas novas possibilidades e acompanhar as tendências.
Uma das novidades que aprendeu foi a técnica Duo Color, que consiste em descolorir os fios e depois aplicar duas diferentes cores nas mechas, de forma intercalada. Ficam a critério do cliente os tons combinados e se quer aplicar em todo o cabelo ou em parte dele. “Aí, é ele que escolhe como vai querer, se é só embaixo, se é nas pontas como um ombre hair, se é só em algumas mechas em meio aos fios naturais. Vai da criatividade e da coragem”, explica Luciane.