É comum que capitais tenham certo protagonismo em áreas como a economia e a cultura de um estado. Mas em Mato Grosso do Sul, projetos que tiveram início em Campo Grande, atualmente, continuam existindo apenas em outras cidades. É o que aconteceu com o CineCultura, que foi fechado em 2010. Os equipamentos foram vendidos e deram origem ao Cinelito, em Ivinhema, único cinema do município. Outro caso é o Grito Rock, festival que foi realizado pela última vez em Campo Grande em 2011, mas chega à quinta edição em Dourados.
Há cinco anos, a produtora cultural Fabiana Fernandes entrou em contato com o coletivo Bigorna, de Campo Grande. Reunindo músicos, bandas, agentes culturais e empresários, o coletivo era o realizador do Festival Grito Rock na cidade. Trata-se de uma ação cultural apoiada pela Casa Fora do Eixo – um dos principais incentivadores do cenário independente no Brasil. “A gente teve contato com os realizadores. Na época, havia o coletivo Barbariê e demos suporte para que uma primeira edição fosse realizada em Dourados”, explica Fabiana.
O festival chega à sua quinta edição no município localizado ao sul de Campo Grande. Contudo, no decorrer dos anos, o formato mudou. Segundo Fabiana, as ações tiveram início em fevereiro, com encontros culturais, ações teatrais e de grupos de hip hop. O ápice da programação acontece entre hoje e domingo, com shows de rock e metal na Praça Cinquentenário, em Dourados. Além de bandas da cidade, também se apresentam grupos como Codinome Winchester e Os Alquimistas, de Campo Grande.
“A gente decidiu fazer um festival de ocupação da cidade. Dourados tem poucas atividades abertas ao público e o Grito Rock acabou se tornando o maior festival independente do Estado”, explica Fabiana. Segundo ela, desde o primeiro ano o festival se distinguia do que era realizado em Campo Grande. “O coletivo Bigorna pensava o festival de maneira mais empresarial, com shows pagos, em um bar. Aqui, a gente decidiu que precisava fazer algo pela cidade, gratuito e aberto a todos os públicos”, comenta. Nesta edição, as bandas que se apresentam são todas sul-mato-grossenses e foram selecionadas depois de se inscreverem. “Foram mais de 200 inscrições”, pontua Fabiana.
VONTADE DE CINEMA
O fechamento do CineCultura em 2010 foi recebido com pesar pelos cinéfilos de Campo Grande. Isso porque o cinema era a única alternativa aos blockbusters exibidos nas redes multiplex dos shoppings da cidade. Apesar da movimentação para manter o cinema ou para que ele fosse reaberto, nada funcionou e todo o equipamento foi vendido. A Fundação Nelito Câmara, de Ivinhema, fez a compra e inaugurou o Cinelito em novembro de 2011. Por se tratar da única sala de exibição da cidade, foi necessário mudar o perfil e filmes comerciais fazem parte da programação aos fins de semana.
“É uma questão comercial, não teríamos como manter o cinema somente com filmes alternativos. Por sermos a única sala de exibição da cidade, existe essa necessidade de trazer filmes que o grande público quer ver”, pontua Leonimar Bachiegas, colaborador da Fundação Nelito Câmara.
No entanto, durante a semana – geralmente às quartas ou quintas-feiras –, o Cinelito realiza ações cineclubistas e oferece filmes menos populares para o público. “Temos um grande número de jovens que vem assistir às produções. Procuramos dar espaço aos clássicos e a filmes de grandes diretores. Películas nacionais também são bastante populares”, comenta Leonimar. Segundo ele, todas as exibições do Cineclube Joel Pizzini são gratuitas.
O Cinelito ainda é responsável por abrigar o Festival de Cinema do Vale do Ivinhema, promovido pela Fundação Nelito Câmara. Neste ano, será realizada a 13a edição. Segundo os organizadores, o festival costuma acontecer em novembro e traz produções regionais, nacionais e internacionais. “Há uma curadoria que seleciona os trabalhos a serem exibidos. É um festival pequeno, mas muito competente”, completa o colaborador.
Entre altos e baixos, o cinema vem se pagando. “Tem mês em que a fundação despende um pouco mais, mas em outros o cinema tem lucro. Isso cria um equilíbrio”, pontua. O cinema está localizado na Rua Pero Vaz, número 98, em Ivinhema.