Envelhecer é um processo natural e, à medida que a perspectiva de vida do brasileiro aumenta, também crescem as preocupações com essa fase da vida. Afinal, todos querem chegar bem ao que se costumava chamar de “terceira idade”. Lançada no ano passado pela Pfizer Brasil, a campanha “Envelhecer Sem Vergonha – Qualidade de Vida Não Tem Idade” promoveu uma pesquisa com 989 pessoas que apontou os itens essenciais para envelhecer bem.
Agora, à véspera do Dia Internacional do Idoso (comemorado amanhã), a campanha lança a segunda etapa, que apresenta dados de sete países da América Latina. A pesquisa entrevistou 2.165 indivíduos. Em relação à questão da prevenção, o Brasil demostrou uma preocupação muito acima da média. Por aqui, 39% afirmaram que “cuidados preventivos com a saúde” é o item mais importante para ter uma boa velhice. A média no México, na Colômbia, na Argentina, na Costa Rica, no Chile, no Equador e no Peru foi de 22%.
Nesses países, a segurança financeira foi considerada mais importante, enquanto no Brasil o item ocupa o quarto lugar. O cotejo entre as duas pesquisas também evidencia que os brasileiros são os que mais temem a solidão no fim da vida, na comparação com os outros países latino-americanos pesquisados. Esse receio foi declarado por 57% dos entrevistados no País, enquanto a média no grupo de países analisados foi de 35%.
De acordo com a psiquiatra Rita Cecília Ferreira, responsável pelo Programa da Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Universidade de São Paulo (USP), uma tendência ao narcisismo presente no Brasil coloca a velhice como um problema. “Cultuamos muito a aparência, a juventude. Para alguns, dizer que alguém é velho pode soar até como ofensa. Então, esse medo da solidão se traduz pelo receio de não ser notado, de não ser visto pelo outro no fim da vida”, analisa.
A pesquisa também evidencia que o brasileiro quer viver muito além da expectativa de vida no País, que atualmente é de 74,9 anos. Dos entrevistados, 35% desejam chegar à faixa etária que vai dos 86 aos 95 anos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2025 o Brasil será o sexto país do mundo em números de idosos, que deverão somar 32 milhões de pessoas.
QUALIDADE DE VIDA
Em Campo Grande, são mais de 300 mil pessoas acima dos 60 anos. A reportagem do Correio do Estado visitou o Centro de Múltiplas Referências de Convivência do Idoso Adalgisa de Paula Ferreira, conhecido como “Vovó Ziza”, que atende homens e mulheres e oferece atividades físicas, recreativas e educacionais, além de promover ações preventivas em relação à saúde. Lá, conversou com algumas pessoas atendidas pelo centro e, de fato, os cuidados preventivos com a saúde foram citados como os mais importantes – embora nem sempre sejam seguidos.
Aldonso Viégas, aposentado de 76 anos, conta que seus principais cuidados são em relação à alimentação. “Tento manter uma dieta mais balanceada, comer bastante verdura”, explica. Além disso, ele costuma praticar dança. “Comecei há seis meses. Mas, no geral, sou um pouco relaxado, principalmente em relação aos médicos”, comenta.
Para Aldonso, no entanto, ter uma vida saudável sempre foi algo que ele buscou ter. “Joguei muito tênis e sempre tive esses cuidados. Só tenho essa dificuldade em fazer acompanhamento com os médicos. Mas ainda me sinto muito bem, consigo manter atividades que são importantes para mim”, pontua.
Declarando ter uma ótima saúde, Rita Alle dos Santos, 77 anos, afirma que a prevenção não foi a maior de suas preocupações, mas acredita se tratar de algo importante. “Eu consigo jogar vôlei, por exemplo, e o jogo me ajuda a ter uma vida melhor. Foi algo que comecei a fazer aqui no centro, assim como outras atividades. Todo mundo sabe que prevenir doenças e quaisquer problemas é importante, mas não são todos que se atêm a isso”, argumenta.
No caso de Dionese da Silveira, 75 anos, a falta de cuidados preventivos é, na verdade, motivo de arrependimento. Ela sofreu um infarte. “Com mais cuidado, eu poderia ter prevenido o problema. Depois dele, passei a levar uma vida mais regrada, para garantir a longevidade. Aqui, além da convivência com outras pessoas, tenho a oportunidade de saber mais sobre como levar uma vida saudável”, argumenta.
Campo Grande conta, atualmente, com quatro centros de convivência, que atendem cerca de três mil idosos. “Estamos longe do ideal, mas buscamos oferecer qualidade de vida com base na prevenção, na prática esportiva e recreativa. Também é uma maneira de diminuir o sentimento de solidão de muitos”, pontua Suely Viçoso, diretora da Proteção Social Básica, da Secretaria Municipal de Assistência Social.