As ofertas de procedimentos estéticos baratos e rápidos estão a cada esquina no verão. A facilidade de pagamento e a aparente simplicidade dos tratamentos de beleza acabam atraindo mais pessoas aos centros de estética – locais onde se realizam tratamentos não invasivos, sem a necessidade de intervenção médica. Mas, nessa busca pela boa aparência, há quem esqueça de se atentar aos riscos e dar prioridade à segurança e à própria saúde.
A esteticista e cosmetóloga Mariana Nolêto é dona de um centro de estética em Campo Grande e conta que atendeu quatro vítimas de erros graves de outros profissionais, nos últimos meses. “Teve uma cliente, por exemplo, que fez uma limpeza de pele em um salão de beleza do Centro e sofreu uma queimadura de segundo grau na face porque deixaram cair água quente nela. Esse procedimento utiliza vapor de ozônio, e erraram ao soltar a água em vez do vapor. É falta de preparo do profissional”.
Na Capital, os salões de beleza podem realizar procedimentos estéticos, desde que um profissional com diploma de formação técnica, reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), os realize ou os supervisione e se faça uso de produtos certificados. Segundo Mariana, a paciente ainda não sabe se foi a falta de formação ou desatenção que causou o erro. “Ela pagou somente R$ 35 na limpeza de pele, o que já daria para desconfiar, porque, quando ela é feita com métodos adequados, não custa menos de R$ 100. Não se vende uma limpeza de pele caseira. Na verdade, ela exige aparelhos, artigos de proteção e produtos que não são baratos”.
Fora a irritação que sentiu por dias no rosto, a paciente que Mariana atendeu ficou com manchas avermelhadas na pele. Ela conseguiu reverter o problema com a indicação de um cosmético clareador.
MAIS PROCURADOS
Além da limpeza de pele, outro serviço estético campeão em procura é a criolipólise. Esse procedimento também é conhecido como “congelamento da gordura” e, de fato, consiste em eliminar camadas adiposas por meio de congelamento.
Outros dois pacientes procuraram pela ajuda de Mariana após terem sofrido queimaduras graves na região do abdome, depois de passar por esse tratamento em outro estabelecimento.
Em ambos os casos, o problema foi a temperatura e o tempo em que ficaram expostos ao efeito do aparelho. “Recomenda-se que eles fiquem ao menos 60 minutos deitados e que a temperatura seja de oito graus negativos. O que acontece é que muitos diminuem esse tempo e baixam ainda mais a temperatura. Alguns estabelecimentos reutilizam a manta de proteção, que é descartável, mas ela vai perdendo a eficácia de proteção e expondo ainda mais o paciente aos riscos”, afirma a esteticista.
Há outros procedimentos ainda mais complexos, que exigem cuidados redobrados. Em qualquer um deles, o importante é ter a certeza de estar em um ambiente seguro e nas mãos de profissionais capacitados, segundo a fisioterapeuta e professora de Estética da Uniderp Claudionora Neves.
“A primeira preocupação que o cliente deve ter é se a clínica, centro de estética e até mesmo salões de beleza têm um profissional capacitado para realizar os procedimentos estéticos. O uso de cosméticos específicos para cada disfunção também é um fator que deve ser observado, bem como a data de validade. Alguns procedimentos requerem produtos de uso individual e descartável, por isso, é importante ficar atento a esse detalhe também. O profissional capacitado deverá explicar, em detalhes, como o procedimento será realizado, qual o cosmético associado, as possíveis reações e, principalmente, as contraindicações de cada procedimento”, recomenda.
FORMAÇÃO
As áreas da estética e da cosmética estão mais ligadas à saúde e tratam diretamente disfunções na face, no corpo e no couro cabeludo – como acne, gordura localizada, flacidez, estrias e dermatite capilar. Esses tratamentos podem ser oferecidos por centros e clínicas de estética e requerem, de acordo com a professora, conhecimento mais aprofundado. Ela cita que, nos cursos de Estética, os alunos aprendem anatomia e fisiologia humana, microbiologia, química, cosmetologia.
O esteticista, às vezes, é confundido com a categoria que engloba cabeleireiros, barbeiros e depiladores, por exemplo, e Claudionora explica como as funções se diferenciam. “A profissão de esteticista trabalha diretamente com disfunções estéticas faciais e corporais, com recursos eletroestéticos, cosméticos e recursos manuais. Para isso, o profissional sempre faz antes uma análise detalhada, chamada anamnese. Já a outra categoria recebe capacitação em nível de formação somente como embelezamento”.
Quatro universidades de Campo Grande oferecem cursos de Estética e Cosmetologia atualmente. Para a presidente do Sindicato Profissional das Esteticistas e Cosmetólogos de Mato Grosso do Sul (Sinestética), Mônica Mendes, graças a eles, está sendo possível diminuir a quantidade de “aventureiros” no mercado. “No passado, muitos faziam aqueles cursos rápidos de fim de semana e logo começavam a trabalhar na área. Hoje, é certo que nós ainda temos erros, mas reduziram muito. Até porque, além da formação nas faculdades ter ajudado, tem a questão dos aparelhos utilizados, que são caros, alguns chegam a custar até R$ 200 mil. Se o profissional não for treinado e preparado, nem tem como operá-los”.
O sindicato ainda está em fase de regularização, segundo Mônica. Ele substituirá uma associação profissional, que tinha cerca de 800 profissionais cadastrados em Campo Grande.