A música cumpre um papel essencial no cinema desde os seus primórdios. O primeiro filme falado de que se tem registro era, à sua maneira, um musical. “O Cantor de Jazz”(1927), embora ainda enfrente acusações de racismo pelo uso do recurso conhecido como “blackface”, ofereceu ao mundo o vislumbre de uma relação que só viria a se estreitar.
Em 2017, outro musical despontou mundialmente e chamou a atenção do público e da crítica: “La La Land”, no qual um cantor de jazz e uma aspirante a atriz vivem suas alegrias e as tristezas em Los Angeles. O filme garantiu 14 indicações ao Oscar das quais levou seis.
Outro estúdio que sempre aposta nas canções para conquistar os espectadores, a Disney, também conta com um filme em cartaz que faz parte do gênero. “A Bela e a Fera” reimagina o clássico literário em versão com pessoas de verdade e muitos efeitos computadorizados. Emma Watson, a Hermione de Harry Potter, vive a camponesa que se muda para o castelo da Fera depois que seu pai é aprisionado por roubar flores do jardim. Um dos pontos altos do filme são, justamente, as canções.
Para Fernandes Ferreira, professor do curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, é possível dizer que os musicais estão de volta com tudo, sobretudo no caso do cinema. “Anualmente sempre há uma ou mais produções musicais na telona, mas poucas alcançam o sucesso de filmes como ‘La La Land’”, aponta. Embora não seja novidade ver filmes musicais concorrendo em categorias importantes do Oscar, sempre que isso acontece, o gênero se destaca.
Fernandes dirigiu alguns musicais em Campo Grande. Adaptações de “Godspell” e “Grease”, interpretadas pelos alunos da Uems e jovens atores e atrizes da Capital chamaram a atenção do público. “Por ser um aficionado nessa linguagem e por querer oportunizar a participação de jovens artistas na produção de um musical, decidi realizar essas montagens”, explica. Outro motivo, segundo ele, foi garantir que o público de Mato Grosso do Sul tenha acesso a esse tipo de produção sem ter de se deslocar aos grandes centros.
No entanto, além de obras pontuais, a produção de musicais na cidade não é tão difundida. Um dos motivos é a complexidade que um trabalho do tipo exige, como domínio de técnicas de canto e dança, além de figurinos, microfones e outros equipamentos. “Tudo é muito complexo e caro”, explica. “O elenco tem de saber cantar, dançar e atuar”, ressalta.
Os detalhes, como pode-se imaginar, fazem toda a diferença. Mas Fernandes argumenta que seja ao vivo ou gravado, um espetáculo musical nunca perde a sua magia. “Claro que ser apresentado ao vivo ou gravado em estúdio faz toda a diferença”, pontua. Mesmo com as dificuldades em se produzir na cidade, Fernandes ressalta que a receptividade de seus espetáculos sempre foi boa. “Ao final de nossa última produção, “Grease”, fui procurado por várias pessoas na três noites. Chorando, emocionadas, elas agradeceram a realização de um sonho: ver um musical ao vivo”, pontua.
Voltando ao cinema, nos últimos anos, depois de um período sem grande investimento no segmento, vários estúdios resolveram apostar novamente nos roteiros embalados por canções cantadas pelo elenco.
Em alguns casos, aconteceram o mix musical e animação. A Disney é um exemplo. Outros estúdios, como o Illumination, apostaram alto na mistura entre animação e música, como é o caso de “Sing – Quem Canta Seus Males Espanta”, lançado no ano passado, e que coloca animais com personalidades humanas em uma espécie de reality show musical.
SIMPÁTICO
No Brasil, assim como aconteceu nos Estados Unidos, os musicais tiveram grande força nas décadas de 40 e 50.Os estúdios como Cinédia e Atlântida produziram vários filmes cujos enredos eram marcados por canções. Isso era muito comum, por exemplo, nas chanchadas – comédias com números musicais – , como “Carnaval Atlântida” e “Alô Alô Carnaval”.
“Orfeu Negro” (1959), uma coprodução com a França, e “Ópera do Malandro” (1985), versão para telona do musical teatral de Chico Buarque, são outros musicais que marcaram época no cinema brasileiro. Não pode ser esquecido “Bete Balanço”, musical jovem também da década de 1980. No ano passado, o simpático “Amor em Sampa” , com Bruna Lombardi e Carlos Alberto Ricelli , buscou retomar os musicais por aqui. Em breve, chegará outra tentativa, “Grande Circo Místico”, versão do diretor Cacá Diegues para outra obra de Chico Buarque.