São 21 entrevistas reunidas em 415 páginas. As conversas ajudam a construir o mapa de um dos projetos mais importantes da música sul-mato-grossense. O resultado é o livro “Prata da Casa: Um Marco da Música Sul-Mato-Grossense”, do jornalista e músico Rodrigo Teixeira. O trabalho que começou a se desenhar no início da década será lançado 24 de agosto, às 20h, no Teatro Glauce Rocha, situado no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O livro, publicado pela Editora UFMS, custará R$ 90.
À guisa de introdução, cabe localizar o projeto. “Prata da Casa” foi realizado pelo Departamento de Cultura da UFMS, entre 1979 e 1983. Shows, videoclipes, um disco ao vivo e um especial para a televisão foram as etapas concluídas, mas o projeto ainda previa a circulação dos músicos por universidades brasileiras. No entanto, por questões de estrutura e mudanças na UFMS, essa parte não foi realizada.
“As pessoas costumam se lembrar apenas do disco, mas o projeto foi muito além. É um trabalho pioneiro”, aponta o autor. De acordo com Rodrigo, o projeto foi um dos primeiros a mostrar a produção musical de um Mato Grosso do Sul recém-criado. “Também foi responsável pela profissionalização do segmento musical. A produção dos videoclipes e do disco intensificaram isso”, considera.
O primeiro show foi realizado em 9 de dezembro de 1979 e trazia nomes emergentes do cenário musical da época, como o Grupo Acaba, Geraldo Espíndola, Grupo Therra, Lenilde e Lenilce, entre outros. As apresentações no Glauce Rocha prosseguiram pelos anos 80.
Posteriormente, uma parceria entre a UFMS e a TV Morena garantiu a criação de 11 videoclipes sob a tutela de Tião Santana e Cândido Alberto da Fonseca. O material foi exibido no especial “Velhos Amigos – Prata da Casa”. Rodrigo escreve que o foco agora é a geração de compositores, deixando-se de lado nomes da música sertaneja ou músicos universitários. “Nossa memória é muito recente, mas existe uma falta de cuidado com os registros. Os clipes e documentários estão meio perdidos, assim como o material original se perdeu na universidade”, critica o pesquisador.
A fase mais lembrada do projeto, até hoje, é a gravação e o lançamento do LP ao vivo, primeiro produzido no Estado. Isso aconteceu em 1982 e os shows foram realizados em 15 e 16 de maio. A produção ficou a cargo de Pena Schmidt, famoso por ter trabalhado com Os Mutantes – um ano antes, ele havia produzido o primeiro disco de Almir Sater.
REGISTRO
“Nas entrevistas, busquei conversar com o maior número de participantes. Não apenas músicos, mas quem organizou e trabalhou na criação do disco”, explica Rodrigo. As entrevistas cobrem mais de 250 páginas dos livro. Segundo o autor, optou-se por manter integralmente as conversas. “Em meu livro anterior, eu mantive trechos. Neste, preferi que o leitor tivesse acesso a todos os diálogos”, explica Rodrigo, que também é autor de “Os Pioneiros – A Origem da Música Sertaneja de Mato Grosso do Sul”.
A tentativa foi a de oferecer um olhar democrático. “É um projeto polêmico. Muita gente não gosta do nome; há quem critique porque, depois de 83, 84, tudo acabava virando ‘Prata da Casa’, ou simplesmente não gosta do nome”, explica. Rodrigo afirma que tentou trazer o maior número de entrevistados para compor esse registro a partir de diversos olhares.
Há entrevistas com Cândido, Guilherme Rondon, Lenilde Ramos, Paulo Gê, Almir Sater, Celito, Geraldo e Tetê Espíndola, Pena Schmidt, entre outros. Rodrigo elenca duas conversas importantes para a história sul-mato-grossense. “É a publicação de uma conversa inédita com a Maria da Glória Sá Rosa, a professora Glorinha”, aponta. Glorinha faleceu no início do mês. Outro registro importante é a entrevista de Geraldo Roca, morto em 2015. “Tenho uma outra com ele, inédita ainda.”
“Prata da Casa” não deixa de ser uma continuação de “Pioneiros”. Este trata da música sul-mato-grossense produzida entre as décadas de 1950 e 1960. No livro que será lançado este mês, é a geração dos anos 70 e 80 que interessa ao jornalista. “Eu tenho projeto para outros dois livros. Um sobre a cena mais ligada ao rock, dos anos 80 e 90. No mesmo período, há uma cena de bailes e sertanejo universitário ganhando força na cidade. Ambos os temas me interessam”, pontua Rodrigo.
Em maio de 2012, a UFMS realizou uma homenagem aos 30 anos do “Prata da Casa”, com o projeto “Músicas e Sons”, que trouxe de volta muitos dos participantes originais, além de músicos que ficaram de fora do disco e o grupo Hermanos Irmãos. Outra vez, o público lotou o Teatro Glauce Rocha, demonstrando a força e o vanguardismo de um dos mais importantes momentos da música urbana da Capital.