Construído no começo do século 20, no centro de Corumbá, o Jardim da Independência foi concebido por um dos mais importantes naturalistas que atuou no Brasil no período, o francês Auguste François Marie Glaziou. O espaço passou por reformas e foi reinaugurado na quarta-feira. Esta é primeira obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas concluída pela prefeitura, em parceria com o governo federal.
Conhecido como “Jardineiro do Império”, Glaziou trouxe ao paisagismo brasileiro o que havia de mais moderno nas praças francesas: alamedas recurvadas e sinuosas em torno de jardins ovalados; concavidades e elevações que se permeavam a lagos, fontes, cascatas; elementos ornamentais de ferro fundido. Muitas delas podem ser observadas no Jardim da Independência de Corumbá. O projeto de requalificação do Jardim respeitou todos os conceitos de Glaziou.
ESCULTURAS
As esculturas em mármore Carrara, vindas de Pisa, na Itália, que representam as quatro estações do ano, são características de Glaziou. O restauro dessas peças – que estavam sujas e gravemente danificadas – foi realizado pelo italiano Walter Rosas, que vive no Brasil há alguns anos, dotado da atribuição e capacidade técnica exigida pela Fundação de Desenvolvimento Urbano e Patrimônio Histórico à empresa contratada.
O primeiro passo foi o tratamento químico com biocida, remoção mecânica com escova de fibra sintética e bisturi. Em uma segunda etapa, nova limpeza com produtos tensioativos; para as crostas mais duras, polpa de celulosa; em seguida, remoção de estratificações do óxido de ferro com ácido “oxálico”.
Na quarta etapa, ocorreu a consolidação capilar da matéria marmórea com substância “silicato de etile”, capaz de reconstruir a estrutura química do material. A quinta, para integração plástica das rachaduras absolutamente declaradas não miméticas do tipo arqueológico, foi utilizado material específico de restauro. Por fim, o acabamento com cera de origem inorgânica transparente e hidrorrepelente, próprias para esse tipo de esculturas.
Em relação às partes faltantes das esculturas, como dedos, parte de rosto e até mesmo braços, seguiram-se as teorias de restauro pela não restituição, sob pena de descaracterização desse tipo de obra.
Um dos destaques, o Monumento a Antonio Maria Coelho também foi restaurado. A estátua em bronze do herói da Retomada de Corumbá apresentava oxidação da superfície, com a típica coloração verde-claro embaixo dos vernizes. Foi recuperado pelo mesmo restaurador especialista Walter Rosas.
As etapas cumpridas por ele foram: tratamento químico e mecânico, com remoção das camadas de tinta utilizando produtos e aparelhos de microrretífica; tratamento químico de limpeza com material tensioativo, adicionado de material inibidor do processo de oxidação do metal.
Ainda para o acabamento e proteção da estátua, foi aplicada cera específica para artefatos em bronze, aditivada de produto acetinado para obtenção de efeito do envelhecimento natural do bronze em áreas abertas.
Na base em granito, tratamento químico com biocida e remoção mecânica com escova de fibra sintética e bisturi; limpeza química e mecânica com produtos próprios, água de alta pressão, escova com fibra de vidro e bisturis.
A partir de registros fotográficos históricos, foi possível fazer a réplica da base do monumento, recompondo os elementos decorativos característicos e serviço de manutenção dos dedos da mão direita. Identificou-se a falta de alguns acessórios, como a réplica da espada de Antônio Maria Coelho.
CORETO
O Coreto, em ferro fundido, vindo da Alemanha, passou por restauro com a retirada das camadas de tinta e a recuperação das partes metálicas. O pináculo, que havia sido derrubado pelo vento há anos, foi recuperado, inclusive com réplica das partes faltantes, o que foi possível a partir de registros fotográficos antigos.
Por ser um elemento emblemático, foi realizado um cuidadoso estudo de cores, visando à valorização do monumento e a proteção do ferro fundido (a utilização de duas cores realça os elementos decorativos do monumento) e de iluminação cênica, com a utilização de lâmpadas de led na parte interna e externa da cúpula e spots embutidos para valorizar os pilaretes.
PAISAGISMO
Foram feitos, em toda a grande extensão de mais de 11 mil metros quadrados, a remoção e o revolvimento do solo dos canteiros, com o plantio de grama amendoim, que é indicada para áreas de meia sombra e sol, respeitando a linha paisagística de Glaziou, que prioriza folhagens e ilhas verdes a espécies florísticas.
Foram plantadas folhagens como costela-de-adão em árvores de grande porte e singônio, formando a bordadura do lago; foi feita complementação das mudas de bambu, preservando os setes tufos ao redor do lago, característica marcante dos projetos de Glaziou; foram colocadas plantas ornamentais nas bases do Coreto, na base do Monumento a Antonio Maria e trepadeiras nos pergolados.
Além disso, foram realizadas obras de manutenção, assim como a revitalização do lago, dos pisos e do pergolado.