O ano começou turbulento para as artes plásticas de Mato Grosso do Sul. O principal espaço reservado às exposições no Estado, o Museu de Arte Contemporânea (Marco), em Campo Grande, abriu 2017 sem coordenação e precisando deliberar sobre a cedência definitiva de parte das obras de Lídia Baís, uma das principais expoentes da pintura e do desenho regional, ao Serviço Social do Comércio (Sesc-MS). Combinados com a ausência dos editais de seleção para mostras no Centro Cultural Octávio Guizzo e no Memorial da Cultura Apolônio de Carvalho, que não são abertos há dois anos, os problemas parecem anunciar um cenário sombrio.
Depois de aproximadamente duas décadas à frente do Marco, Maysa Barros se desligou do local. Em seu lugar, assumiu Kelly Rodrigues Gonçalves, ainda de forma interina. Servidora efetiva do museu, ela aguarda reunião com o titular da Secretaria de Estado de Cultura, Turismo, Inovação e Empreendedorismo (Sectei) e diretor-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), Athayde Nery, a fim de definir sua situação.
O encontro também deve encaminhar uma solução para o impasse criado em torno do conjunto de pinturas de Lídia Baís, que está sob a curadoria do Marco. O Sesc-MS, que gere a Morada dos Baís desde 2015, confirmou “a intenção de ampliar o acervo do Museu Lídia Baís por meio da cedência de algumas peças do Marco”, segundo nota de sua assessoria de imprensa.
A entidade não divulgou quais ou quantas peças seriam cedidas, mas formalizou o desejo de integrá-las à sua coleção em dezembro do ano passado, alegando que, “com a criação da nova unidade de cultura [no prédio do Exército – Mello e Cáceres], a Morada terá mais espaço para exposições fixas e é nossa intenção ter um acervo mais completo da artista Lídia Baís no local”. O Sesc-MS já havia adquirido novas obras da pintora e desenhista quando passou a administrar a Morada dos Baís – um dos primeiros sobrados construídos na cidade, entre os anos de 1913 e 1918, o qual foi residência do comerciante italiano Bernardo Franco Baís durante 20 anos.
A reportagem tentou contato com o responsável pela Sectei e FCMS, Athayde Nery, e com a assessoria de imprensa da FCMS, a fim de repercutir o impasse, mas as ligações não foram atendidas ou retornadas até o fechamento desta matéria. A ex-coordenadora do Marco Maysa Barros também foi procurada, porém, não atendeu os telefonemas.
EDITAIS
Outra situação incômoda no panorama cultural do Estado é a falta de políticas de fomento, que tem deixado o trabalho dos artistas plásticos sul-mato-grossenses à margem dos circuitos de exposições. O último edital de seleção para exposições na galeria Wega Nery e no Foyer do Teatro Aracy Balabanian, no Centro Cultural José Octávio Guizzo, foi aberto em abril de 2015.
Naquele ano, as mostras contemplariam trabalhos de artes visuais nas categorias de pintura, desenho, gravura, escultura, objeto, colagem e instalação, arte digital, videoarte, web arte, body art, performance e linguagem periférica.
Já o Memorial da Cultura Apolônio de Carvalho, um dos maiores espaços destinados à cultura regional e onde também funciona a FCMS, não recebe mostras temporárias de artes plásticas, selecionadas por chamamentos públicos, há, pelo menos, dois anos. As atividades mais constantes no local são promovidas pelo Museu da Imagem e do Som (MIS).
Resta aos artistas locais tentar o edital de seleção para o Programa de Exposições Temporárias do Marco – o último, aberto em dezembro passado para escolher as mostras deste ano. O procedimento, porém, costuma ser concorrido, com interessados de todo o País, e acaba diminuindo o espaço dos sul-mato-grossenses. Durante a temporada passada, por exemplo, apenas uma em cada quatro exposições eram provenientes de artistas do Estado.