Pedaço de natureza dentro da cidade, o Parque das Nações Indígenas continua sendo um dos locais públicos preferidos dos campo-grandenses e turistas para relaxar ou praticar atividades físicas e de lazer. O parque recebe cerca de 14 mil visitantes aos fins de semana, mas chegou a reunir até 100 mil na época em que era palco para shows de artistas nacionais. Quem o frequenta há anos certamente notou que, apesar de ser área de preservação, ele tem passado por transformações para acompanhar a mudança de comportamento das pessoas e garantir boa convivência com os recursos naturais e as espécies animais.
Sentado em uma cadeira de praia em frente ao lago central do parque, o professor de Teologia Valentim Zanatta, 62 anos, interrompe a leitura de um livro para falar sobre essas mudanças. “Não havia parado para pensar. E olha que venho aqui sempre, desde a inauguração. Acho que o que mais mudou foram as pessoas que vêm pra cá mesmo, no geral. Tem mais gente se exercitando, trazendo as crianças e passando dias em família. Fazem até festa de aniversário, isso é ótimo. Estamos mais conscientes também, acho que isso reflete no uso que fazemos do parque hoje.” Ele mora nas proximidades e está sempre por lá para descansar e contemplar a vista, que considera bonita.
Quase todo fim de semana, estão no parque também três terenas que vivem na Aldeia Urbana Marçal de Souza. Elizandra Pereira, 14 anos, Joelson da Silva, 13 anos, e Paula da Silva, 13 anos, são amigos e marcam idas ao local para conversar, rir e ir a apresentações das bandas que gostam. Vão a pé de casa até o local e, quando chegam, ainda têm fôlego para dar uma volta na pista de caminhada. Por não serem frequentadores antigos, não perceberam outras mudanças além do aumento do número de visitantes.
Assim como o trio de amigos, o casal de namorados Alexandre Padilha, 24 anos, e Aline Melgar, 18 anos, não repararam grandes diferenças fora o fato de que o parque anda lotado e que tem muito mais pessoas disputando espaço para se exercitar. Eles, que frequentam o parque desde criança, destacam ainda que, hoje, há parques infantis em todas as entradas do parque, o que não havia antes.
DIFERENTE
Há 23 anos, quando foi criado e aberto à visitação, o parque tinha outra cara. Menos vegetação, menos estrutura para receber pessoas e água mais limpa nos dois lagos artificiais que abriga – essas eram algumas características da antiga paisagem. Recentemente, vieram a Concha Acústica Helena Meirelles, os parquinhos infantis, iluminação com lâmpadas de LED, ciclovia e a até então inconclusa obra do Aquário do Pantanal.
O gerente de unidade de conservação do Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) que coordena o Parque das Nações Indígenas, Leonardo Tostes, explica que a maioria das mudanças foi implementada com base nas novas necessidades dos frequentadores. “Vemos que, ultimamente, as pessoas estão buscando mais por uma vida saudável e passando mais horas no parque em atividades físicas e de lazer. Incluímos a ciclovia, por exemplo, que é uma reivindicação antiga, sinalização e melhoria na iluminação. Agora, estamos tentando promover mais mudanças, mas há questões burocráticas que dificultam que elas aconteçam rapidamente.”
O parque também ganhou equipamento para videomonitoramento, que inibiu o vandalismo, tão recorrente. “Ainda temos muitos problemas com isso, especialmente quando tem evento. Temos que adequar a realidade do parque ao comportamento dos visitantes”, detalha o gerente.
Tostes afirma que o espaço vai receber ao menos uma readequação dos banheiros, para assegurar o acesso dos deficientes, e uma reforma com material antivandalismo, para evitar novas depredações. A previsão é de que até o final do ano elas fiquem prontas. Dentro de um projeto de revitalização que está sendo finalizado, existe ainda a proposta de ativar a venda de alimentos dentro dos quiosques do parque. “Nunca funcionou e é uma coisa que a gente pensa que poderia atender bem os visitantes que se exercitam e buscam alimentos saudáveis. Só que a legislação acaba burocratizando e os comerciantes perdem interesse também, por terem de recolher imposto e concorrer com os ambulantes que ficam do lado de fora.”
Com o aumento do número de iniciativas de pesquisa, o parque também se tornou local investigado por institutos e estudantes nos últimos anos. Uma delas, por exemplo, propõe o registro das espécies de pássaros encontradas por lá. Ela ainda não foi concluída.
O que está diferente também é a profundidade e coloração dos dois lagos do parque, o central e o que fica próximo ao Museu do Índio. A causa da mudança, segundo Leonardo, são os detritos. “Os lagos foram criados justamente com essa finalidade de contenção de enchentes e segurança do Córrego Prosa e, em período de chuvas, é normal ficarem mais escuros, pois mais sedimentos chegam a eles. Entretanto, ele passa agora por um processo de assoreamento, que complica essa situação”, explica.
VARIEDADE
Piquenique, ioga, treino de canoagem para paratletas, desafios de equilíbrio na corda, corrida, dança, namoro, conversas em rodas de tereré, ensaios fotográficos e dezenas de outras atividades são habituais quase que ao mesmo tempo no Parque das Nações Indígenas. Na extensão dos 119 hectares, dividem espaço pessoas de todas as idades, classes sociais e origens.
E essa variedade de atividades pode ser ainda maior se outros espaços que existem dentro do parque fossem mais bem aproveitados. A Casa do Homem Pantaneiro, por exemplo, é uma delas. Criada com a finalidade de ser um pequeno museu que apresenta a vida do pantaneiro, foi construída com recursos do governo federal e atualmente se encontra fechada, à espera da execução de um novo projeto cultural para ser reaberta.
A zarabatana – também chamada de totem ou mirante – poderia ser incluída também na lista de elementos pouco explorados no parque, apesar de não ter sido finalizada desde a inauguração do local. Referência à cultura indígena em Mato Grosso do Sul, chama atenção pelo tamanho e pela arquitetura, tem algumas escadas, mas poucos sabem qual a razão de sua construção.
Assim como o monumento ao guerreiro guaicuru, que fica em meio ao lago, está lá para representar a presença dos índios no Estado – lembrada desde o nome principal do parque e de suas entradas e, ainda, no Museu do Índio, que fica em seu interior.