Milenar, a arte de dar forma ao papel é conhecida como origami. A palavra tem origem japonesa e nasceu da junção de “oru” (dobrar) e “kami” (papel). Em Campo Grande, não é tão comum ver pessoas praticando-a, mas existem aqueles que se empenham na criação das formas mais diversas por meio das dobraduras, sem usar tesoura ou cola. Das mais simples às mais complexas, as pequenas “esculturas” de papel conquistaram espaço na arquitetura e nas artes contemporâneas.
No sábado, o professor Elder Alves ministra a segunda parte da oficina Origami e suas Firulices, no Sesc Morada dos Baís – Avenida Noroeste, 5.140, às 16h. No encontro, além de ensinar a arte oriental, ele ensina os participantes a fazer as mais tradicionais dobraduras, como barquinhos, balões e aviões. “Existe uma diferença importante. As dobraduras mais populares têm origem europeia. Já o origami é uma arte tradicional do Japão, que se vale de um pequeno número de dobras para criar formas incríveis”, pontua.
Praticante da técnica há mais de 20 anos, Elder conta que teve peças suas em exposições e mostras de decoração, como a Morar Mais Por Menos. “Existem alguns estilos dentro da prática. Um dos que mais me interessam é o origami decoration, que se vale das formas geométricas para criar itens como móbiles e outros objetos decorativos”, explica. Elder conta que aprendeu a arte como um hobby, mas, durante um período em que não encontrava emprego, começou a se dedicar a ensiná-la. “Ainda morava em Mato Grosso, mas vi que era um caminho promissor”, explica.
A influência dos origamis é facilmente perceptível na obra de artistas brasileiros como Lygia Clark e Hélio Oiticica. “Bichos”, uma série de esculturas abstratas em alumínio criadas por Lygia, na década de 1960, demonstram essa aproximação da arte contemporânea com as dobraduras japonesas. Outro exemplo é “Relevos Espaciais”, produzidos a partir de placas de madeira pintadas e presas ao teto por simples fios, que também já foram analisados por pesquisadores da arte a partir de sua relação com os origamis.
Outro uso muito desenvolvido dos origamis tem origem japonesa. Trata-se da arquitetura origâmica, desenvolvida pelo professor e arquiteto japonês Masahiro Chatani. Por meio do papel, ele conseguiu reproduzir fachadas de importantes prédios, assim como criar modelos tridimensionais, com foco em formas cinéticas. O trabalho de Masahiro influenciou artistas no mundo inteiro, chamando atenção pela criatividade e força imaginativa de cada criador.
CORES E FORMAS
A tridimensionalidade e as cores são dois elementos centrais para a criação de origamis. Praticante desde o início da adolescência, Fabiana Satomi Oikawa descobriu no origami muito mais que um hobby. Por meio de uma técnica conhecida como kusudama, ela consegue criar peças modulares de tamanhos variados. As maiores ultrapassam mais de mil dobraduras, que são unidas por meio de encaixes e dobras. Ao final, peças coloridas e visualmente instigantes são capazes de chamar atenção de qualquer pessoa.
“Uma tia que morou e trabalhou no Japão me ensinou quando eu ainda era bem nova. Era um passatempo e eu quase abandonei totalmente durante o Ensino Médio”, conta Fabiana. Durante o curso de Arquitetura e Urbanismo, ela retomou o hábito e começou a aprofundar a técnica na criação de kusudamas cada vez mais complexos.
A palavra japonesa carrega um significado que hoje foi um pouco abandonado. Nasceu da junção “kusu” (remédio) e “dama” (bola). Antigamente, no país, eram colocadas plantas medicinais, ervas e outros medicamentos dentro desses origamis. Também são muito utilizados em festas e datas comemorativas. Embora a conotação medicinal desses origamis tenha se perdido, eles ainda são fortemente simbólicos.
Fabiana morou durante algum tempo com o marido em uma cidade próxima a Milão, na Itália. Lá, ela intensificou a produção. “Entrei em depressão por causa de vários motivos e o origami se tornou uma válvula de escape”, explica. Ela, inclusive, teve a oportunidade de vender algumas de suas criações por lá. Atualmente, ela afirma que o origami voltou a ser um hobby, mas, quando alguém pede, acaba vendendo uma peça ou outra.